sexta-feira, 12 de março de 2010

Professores e alunos devem ter relação mais próxima?

> Portal Universia, 11/03/2010
Professores e alunos devem ter relação mais próxima?
Envolvimento pode melhorar comunicação, mas atrapalhar outros aspectos
Roberto Machado
O modelo de ensino nas universidades, que até certo ponto obedece ao paradigma que acompanha os estudantes desde o Ensino Básico, tem se replicado de geração em geração. Evidentemente, na universidade, o relacionamento entre professores e alunos adquire novos contornos. Liberdade e distanciamento são conceitos que são elevados a patamares altos em comparação ao que os estudantes vivenciam no colégio. Mas por outro lado, no Ensino Superior, a relação do professor com os alunos pode se desenvolver muito além da sala de aula e, em alguns casos, se transformar no embrião de um contato entre profissionais da mesma área ou mesmo em amizade. Esse tipo de contato pode e costuma receber diferentes pontos de vista dos profissionais. Há quem defenda que esse tipo de interação deva ser abordado com cuidado. Um dos argumentos é o de que ela poderia interferir na própria dinâmica do relacionamento entre mestre e aprendiz. Outros alertam para o que a convivência mais próxima e menos formal entre estudantes e professores pode aparentar e como isso interferiria no ambiente de aprendizado. Ainda que busque aproximação com o universo discente para melhorar a qualidade da comunicação entre as duas pontas, o questionamento parece inevitável: o professore deve ou não se envolver no ambiente dos alunos?

Warde Marx, professor de comunicação da USJT (Universidade São Judas Tadeu), prefere pensar que está propenso a fazer grandes amizades dentro da sala de aula como em qualquer outro lugar. Ele costuma inclusive dar uma dica para quem assiste a sua aula pela primeira vez. "Digo a eles o seguinte: estamos começando um período de estudos juntos e nada nos impede que, além de colegas de profissão, nos tornemos amigos", conta Marx, sinalizando sua opinião de que esse contato mais próximo com o universo dos estudantes não causa problemas. O professor divide hoje sua estação de trabalho na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde participa na construção de projetos para a organização, com dois ex-alunos que se tornaram amigos. "Nós trabalhos juntos, rimos juntos e discutimos juntos, como bons amigos fazem", resume. Marx conjectura que essa atitude venha da época em que ele estava do outro lado da sala, como aluno. "Também tenho uma relação de amizade com pessoas que já foram meus professores e não é nada planejado, simplesmente aconteceu", diz ele. Mesmo sendo a favor do contato aluno/professor fora da sala de aula, não são todos os programas que atraem o educador. "Não costumo ir pra balada com meus alunos, mas um café com pão de queijo não faz mal a ninguém", conclui Marx.

Segundo Luis Mauro Sá Martino, professor de Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, há profissionais que acreditam que a sala de aula é um lugar onde deve existir o diálogo e a troca. De acordo com ele, o professor tem muito a aprender com os alunos. Martino diz que isso acontece porque o mundo do conhecimento não tem fronteiras, mas mesmo assim, a relação pedagógica vem carregada de poder, e nem todos (seja alunos ou professores) estão preparados para ela. Por esse motivo o professor acha importante se concentrar dentro do universo cultural de seus alunos. "Já li e ouvi muita coisa indicada por meus alunos e também já dei muitas dicas para eles e discutimos sobre isso juntos", exemplifica Martinho. Mas ele demonstra alguma reserva em relação a excessos nesse contato com os estudantes e diz preferir deixar para se tornar amigo de seus alunos depois do ano letivo. Ele procura resumir o porquê dessa decisão. "É complicado sair apenas com um aluno enquanto você convive com muitos outros dentro da sala", declara Martino, que durante sua época de aluno presenciou situações não tão agradáveis. "Já vi professores que davam mais atenção a alguns alunos por suas preferências culturais e políticas e não é bom ver esse tipo de coisa", critica ele. Ele diz ainda se encontra com alguns dos seus ex-alunos. "Na última semana, sai para jantar com um casal para quem já dei aula e que além de terem se casado depois da faculdade, se tornaram bons amigos meus", afirma o professor.

Para alguns alunos, é importante saber que podem contar com os conselhos e experiência de vida de seus mestres não apenas durante as aulas. É isso que explica Luis Fernando Magliano, aluno de ciências atuarias da USP (Universidade de São Paulo), que buscou num professor conselhos sobre um intercâmbio. "Acabei por descobrir que o meu professor na época havia morado na Austrália por dois anos. Por isso, resolvi pedir alguns conselhos para ele, quanto a minha possível ida ao país", conta o rapaz, que diz ter recebido suporte do professor. "Saímos para conversar e ele me contou sobre sua experiência no exterior", lembra Magliano. O próprio aluno consegue sentir em seu dia-a-dia na universidade que a linha que divide professor e aluno é cada vez mais tênue e também chega ao mercado de trabalho. "Talvez essa sensação seja influenciada pelo meu curso, onde alunos e professores acabam se encontrando com bastante frequência no mercado de trabalho", opina o estudante.

As universidades costumam usar um projeto institucional bem sólido na hora de contratar um novo professor. São critérios que reúnem fatores que englobam o trabalho em equipe, pesquisas acadêmicas com bases educativas e métodos que visam a desafiar o aluno em sala de aula. Esses fatores são importantes, mas não determinantes na hora da contratação, como explica a Sandra Difini Kopzinfki, coordenadora do Programa de Pedagogia da Universidade FEEVALE. "Vemos o ensino e o aprendizado como uma troca, por isso, um professor com perfil humanista se faz tão necessário", explica a coordenadora. Sandra acha apenas que um dos pontos que pode atrapalhar a amizade é a relação hierárquica que o professor exerce sobre sua turma. "Tudo vai depender muito do professor e do aluno para que o relacionamento siga seu rumo natural, já que esse 'poder' pode vir a diluir a amizade", alerta ela.

2 comentários:

Ana Beatriz Kokr disse...

Oi Rogério, concordo plenamente. Foi com a proximidade que tive com meus professores, que consegui ter "tato" e saber que poderia tirar duvidas a vontade, e a todo momento. O Ave Maria me proporcionou este setor em demasia e agora estou reexeperimentando na universidade.

José Rogério disse...

Oie Bia. Que legal você colocar estas palavras de sinceridade. Vou tomar a liberdade de repassar aos professores e professores, pois isto é TRABALHO DA EQUIPE. E esperamos que você seja sempre vitoriosa, e acima tenha muitas alegrias e muita felicidade.

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