terça-feira, 30 de março de 2010

Vestibular UNICAMP,USP, UNESP, UFSCAR, PUCSP...

Fuvest
O manual do vestibular 2011 estará disponível na web para consulta e impressão a partir do dia 2 de agosto. As inscrições vão de 27 de agosto a 10 de setembro, também pela internet.

A Fuvest seleciona alunos para a USP (Universidade de São Paulo), para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco e para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa.

As provas específicas serão realizadas de 10 a 15 de outubro. A primeira fase será no dia 28 de novembro e a 2ª fase ocorre nos dias 9, 10 e 11 de janeiro.


Unicamp
A Unicamp recebe inscrições para o seu processo seletivo entre 23 de agosto e 8 de outubro, por meio de formulário que estará disponível na página da Comvest, que organiza vestibular.

A primeira fase vai acontecer no dia 21 de novembro e o resultado com a lista de convocados para a segunda fase será divulgado em 20 de dezembro.

A segunda fase será realizada nos dias 16, 17 e 18 de janeiro. Já as provas de aptidão serão aplicadas em Campinas, de 24 a 27 de janeiro. A lista de convocados em primeira chamada será divulgada em 7 de fevereiro.


Unesp
A prova da primeira fase da Unesp será no dia 14 de novembro. A segunda fase será em 19 e 20 de dezembro. A divulgação da convocação para matrícula acontecerá em 3 de fevereiro.


A PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
divulgou, nesta terça-feira (30), a data da prova do vestibular unificado 2011. Os exames serão realizados em 5 de dezembro e o resultado está previsto para o dia 21 do mesmo mês.

A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) divulgou, nesta terça-feira (30), as datas previstas para aplicação das provas do processo seletivo 2011. Os dias reservados para os exames foram 5 e 6 de janeiro.

Segundo a assessoria de imprensa da instituição, caso seja mantido o atual formato do vestibular, em que a nota final de candidato é composta 50% pelo desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e 50% pelo resultado das provas da própria universidade, essa data será mantida.

A decisão sobre o formato do vestibular 2011 da UFSCar caberá aos colegiados superiores da instituição e deverá ser anunciada até o final do primeiro semestre de 2010.

FONTE: SITE DA UOL - acesso em 30 de abril.

Escolha de Escola_ Parte II _ Os pais pouco buscam a pedagogia

Na escolha do colégio, pedagogia em 2º plano
Pesquisa mostra que pais dão mais valor à infraestrutura física e ao atendimento
O Estado de São Paulo, 29/03/2010 - São Paulo SP
Luciana Alvarez - O Estadao de S.Paulo

Os coordenadores se esforçam para apresentar detalhadamente os projetos pedagógicos de suas escolas em reuniões e palestras, mas na hora da escolha, os pais não percebem as diferenças entre os vários discursos. Eles levam em conta mesmo se os banheiros são limpos, se as salas de aula estão organizadas, a cordialidade de quem os atendeu ao telefone e, é claro, a classificação no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A falha na comunicação entre pais e escolas foi detectada por uma pesquisa qualitativa da Meio Ponto, empresa de estudos educacionais. Em 2009, foram ouvidos diretores e coordenadores de 16 escolas paulistanas de elite. Em janeiro deste ano, foram entrevistadas oito famílias que escolheram agora uma nova escola. "O mais importante para os pais são as informações visuais, como conservação, organização, aparência dos funcionário", afirma a educadora Renata Rubano, autora da pesquisa. "A escolha nunca tem como base a proposta pedagógica. A metodologia de cada colégio fica indiferenciada."

O estudo mostrou que os representantes dos colégios não gostam quando os pais aparecem com listas de itens predeterminados, mas também não conseguem se fazer compreender. "Os rótulos pedagógicos atrapalham o entendimento", diz Renata. Angustia. Todos os pais entrevistados relataram que o período de escolha é angustiante. "Eles querem a escola perfeita e buscam uma escola para toda a vida, para não precisar mais se preocupar com isso", diz a pesquisadora. Mas a escolha não deve ser definitiva. Ivone Neuber, mãe de gêmeos de 11 anos, não precisou nem sequer de um ano letivo para perceber que havia feito a opção errada. Na semana passada, antes de completar três meses de aula, transferiu Rodrigo para a Escola Viva, onde Thomaz já estudava. "Eles são diferentes, achei que se dariam bem em lugares diferentes", conta a mãe. Mas uma das escolas, apesar da ótima fama, não tinha um perfil que combinava com a família.

Os pais planejavam uma viagem na Páscoa para as cidades históricas de Minas Gerais, mas a quantidade de trabalhos e conteúdo para estudar era tão grande que o passeio teria de ser cancelado. "Achei demais para um menino de apenas 11 anos", diz Ivone. "O Rodrigo estava angustiado com tanta cobrança e me perguntei se a gente queria mesmo aquilo." A resposta foi "não". Os pais já haviam decidido tirar Rodrigo e Thomaz da escola anterior, em período integral, para suavizar o ritmo dos meninos. Perfil. A tradição, a fama, a localização são os fatores que mais acabam pesando na hora da escolha. Em meio a tantas opções de escolas, muitos pais se esquecem de perguntar que tipo de valores eles esperam do colégio. "Não basta saber se tem artes na escola. Tem de perguntar como a arte é vista; que tipo de arte se estuda; se a abordagem é o ensino da técnica ou o desenvolvimento da criatividade", afirma Renata.

Os pais também tem de levar em consideração os desejos e características dos filhos. "Quem escolhe é o pai, mas a gente vai trabalhar com o aluno", afirma o diretor da escola Hugo Sarmento, João Mendes de Almeida. Segundo ele, cada vez mais os pais têm a responsabilidade sobre o tipo de educação que recebem as crianças. "Antes, até existia aquela escola que dizia que ela é que sabia o que era bom para o aluno e pronto, não aceitava questionamento. Hoje não dá mais", diz. Internet. Em meio a um período de tantas dúvidas, os sites das escolas estão sendo usados como ferramentas que ajudam na decisão. Antes mesmo de visitar, os pais podem acompanhar a rotina escolar, saber que tipo de atividades são feitas e quais os resultados delas. "Hoje todo mundo entra nos sites várias vezes", diz Renata. O atendimento que os pais recebem desde o primeiro contato também é fundamental. "Se prometem ligar e não ligam, a escola acaba descartada."

Escolha da Escola - Parte I- Entrevista com Sílvia Colello

O Estado de São Paulo, 29/03/2010 - São Paulo SP
'As escolas mais atualizadas são menos compreendidas pelos pais'
Entrevista com Silvia Colello. Professora de Pedagogia Da Universidade de São Paulo
Educadora defende que todos os pais podem - e devem - entender o projeto pedagógico da escola dos filhos. Por que os pais não se importam com o projeto pedagógico?Muitos se sentem incompetentes para perguntar sobre isso. Alguns se sentem mais seguros com um modelo que já tiveram, então as escolas mais atualizadas são menos compreendidas. Muito usam, então, critérios periféricos, como nota no Enem, mesmo para crianças entrando no maternal. Mas a proposta pedagógica faz realmente diferença? Faz toda a diferença. Ela define o modelo de aprendizagem, os procedimentos que a escola adota. Ela precisa ser coerente com os valores da família. Os pais têm o direito de perguntar e a escola, o dever de explicar.

Mesmo leigos conseguem perceber a diferença de propostas? Por menos conhecedores que os pais sejam do assunto, é importante que eles entendam, para ter confiança na escola. É como para comprar um carro: tem de pesquisar, mas não precisa ser especialista. Eles podem fazer perguntas básicas, como quais são as metas do colégio, o que ele prioriza. É o vestibular, é passar valores, é criar um sujeito crítico? Mas existem muitos termos técnicos, que podem confundir... Se uma escola diz que é construtivista, precisa ver como isso se manifesta na prática. Pode-se saber com perguntas simples, sobre como são as aulas, que tipos de estudos do meio, se há feira de ciências, as particularidades da escola./ L.A.

Brasil tem novas ocupações citadas na CBO

Brasil tem 47 "novas" ocupações - Inclusão de profissões em lista do governo ajuda em políticas públicas, afirma especialista
Folha de São Paulo, 28/03/2010 - São Paulo SP
JORDANA VIOTTO DA REPORTAGEM LOCAL

Chefe de cozinha, médico de saúde da família e outras 45 atividades foram incluídas na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). A lista, concluída no fim do ano passado, foi obtida com exclusividade pela Folha. Trata-se de uma relação de 2.511 ocupações, reunidas em 607 famílias, 192 subgrupos, 48 subgrupos principais e dez grandes grupos. Ela serve como base para cadastrar a população economicamente ativa. "Também ajuda a elaborar políticas públicas, analisar a evolução do mercado e identificar riscos de desemprego, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho", esclarece Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A listagem das ocupações não tem fins de oficialização -há profissões que não constam da classificação. A diferença é que não contam com todo esse monitoramento. As atualizações são anuais e feitas pelos técnicos do MTE, que acompanham as listagens estrangeiras e consideram solicitações de conselhos profissionais, de sindicatos e do Sistema Nacional de Emprego.

Reconhecimento - Embora tenha cunho administrativo, e não de negociação, a inclusão de uma atividade na CBO é vista como reconhecimento. É a opinião do chefe de cozinha Fred Frank, 38. "Pode ser um impulso para que as universidades públicas ofereçam o curso de gastronomia", considera João Leme, presidente da Abaga (Associação Brasileira da Alta Gastronomia). Hoje, a graduação nessa área só está disponível em instituições privadas. A inclusão também será positiva para os tecnólogos em processos químicos, segundo Aelson Guaita, presidente do Sinquisp, sindicato de químicos. Ele conta que há uma confusão no mercado entre as definições de técnico (nível médio) e de tecnólogo (nível superior). "Há a ideia de que o curso de tecnólogo é incompleto por ser feito em menos tempo do que a graduação tradicional", afirma. Isso gera, diz, dificuldade de ingresso no mercado de trabalho. A inclusão da atividade deve ajudar a elucidar a situação. A CBO relaciona ocupações de todo o país. Por isso é difícil que uma delas deixe a lista, explica Eduardo Schneider, técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Assim, a classificação conta com ocupações, como a de datilógrafo, raras nas grandes cidades, mas vivas nas menores.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Conferência Nacional da Educação de 28 de março a 1 de abril.

Em pauta, o futuro da Educação no país
Folha Dirigida, 25/03/2010 - Rio de Janeiro RJ
Lygia Freitas e Mário Boechat

A educação brasileira viverá momentos decisivos entre os dias 28 de março e 1º de abril. Neste período, Brasília será palco da Conferência Nacional de Educação (Conae). O evento pode ser considerado uma espécie de ápice da discussão de educação, uma vez que acontece depois das Conferências Municipais, Estaduais e do Distrito Federal, encontros que aconteceram durante os últimos dois anos e que reuniram diversos atores do cenário educacional, como dirigentes, professores, estudantes e pais de alunos. No evento, um dos temas mais importantes e polêmicos será a formulação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), já que o anterior está prestes a expirar. Com as novas regras e metas, será estipulado o futuro do setor para os próximos 10 anos. Para o senador Flávio Arns (PSDB-PR), presidente da Comissão de Educação do Senado Federal, este é um momento de avaliação. "Precisamos verificar, como já está sendo feito, o plano atual. Precisamos saber o que deu certo e o que deu errado dentro das propostas e como elas têm sido implantadas. Precisamos saber, através disso, se conseguimos atingir todas as metas propostas", sugere, acrescentando que o país tem deixado a desejar, por exemplo, no ensino superior. "Nós temos 15% dos nossos jovens em instituições de ensino superior, tanto públicas quanto privadas, quando a nossa meta é 30%. A Argentina tem 30%; Cuba tem 50%".

Ainda de acordo com o senador, será fundamental ver em quais sentidos o país avançou, sem perder a noção de que muito ainda precisa ser feito em termos de educação. Entre as ressalvas para o desenvolvimento, Arns cita o orçamento que, segundo ele, precisaria ser muito maior do que o atual. Para ele, os debates na Conae não podem perder o foco no futuro. "Ao mesmo tempo, temos que ter um direcionamento para aquela idéia da próxima década. A política tem que ser mais condensada, com objetivos mais palpáveis para todos os níveis, inclusive na educação para o trabalho, que é um dos maiores desafios, além da falta de interesse pelo ensino médio e acesso ao ensino superior. Mas, no fundo, é a decisão do investimento e investimento na educação é a valorização do setor", conclui.

Já para a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), integrante da Comissão de Educação da Câmara, será necessário cobrar ações e participação dos estados. "Temos que construir um novo PNE, já que o atual está concluindo a sua vigência. É uma responsabilidade constitucional definir um plano de metas e investimentos voltado à qualidade da educação brasileira de 2011 a 2020. Este novo plano tem que ter como centro a questão da qualidade, já que o acesso à educação tem que melhorar". Além disso, de acordo com a deputada, é preciso melhorar o monitoramento já que, para ela, pouco adianta ter metas se não há indicadores precisos, ao longo da vigência do plano, que avaliem o que está sendo feito e os resultados. "Além disso, a adesão dos estados tem sido muito pequena. Toda a análise indica que uma das falhas é que o PNE não esteve desdobrado em planos estaduais e municipais. Temos que ter uma meta clara de que o PNE exista na União, nos estados e nos municípios e, ainda, que exista um sistemanacional", finaliza.

Este sistema também será cobrado durante a Conae pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). A presidente do órgão, Clélia Brandão, diz que a Emenda Constitucional 59 traz esse sistema nacional de educação com muito mais clareza, "dizendo que o Brasil tem um sistema nacional de educação, terá um Plano Nacional de Educação decenal e mais do que isso, assume o compromisso com a educação pública e gratuita dos 4 aos 17 anos". Além disso, ela afirma que, na Conae, o CNE vai defender a utilização de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação brasileira. Ela também lembra que durante dois anos vêm sendo feitas discussões entre as esferas estaduais, municipais e nacional, sobre o papel dos conselhos, sua natureza, e a importância da continuidade das políticas. "Assim, nós defendemos, durante as conferências estaduais, e é lógico que este é um ponto que vai para a Conferência Nacional, que é da constituição efetiva dos conselhos como órgãos de estado ir além das gestões, tanto é que o conselho não faz a mudança de seus conselheiros todos aos mesmo tempo. Quer dizer, é um princípio da garantia da continuidade". Para ela, é ponto fundamental que os conselhos sejam órgãos de estado. "Para isso precisam ter uma legislação que lhes dê autonomia. Que ele se constitua numa unidade administrativa e financeira. É preciso rever até mesmo as leis de criação dos conselhos".

Cleide acrescenta que muitas outras questões relativas à própria organização da educação brasileira também vão fazer parte da discussão na Conae. Entre eles, um que ela define como um grande desafio. "A escola da diversidade; a escola inclusiva. E quando falamos inclusiva, é aquela que atende a todos, com qualidade, com solidariedade, com respeito, com cientificidade. Enfim, eu acho que serão debates extremamente importantes". Ela conclui afirmando que, com a Conae, serão elaboradas quatro etapas para o Plano Nacional de Educação (PNE). "A preparação, que fizemos durante o ano de 2008, para ver as diretrizes para subsidiar a elaboração do PNE; as estratégias para assegurar aquilo que discutimos e relacionamos como importante; acompanhar a fase de elaboração do PNE no sentido de que a legislação esteja de acordo com a expectativa; e o quarto momento, que só vai ter o seu final em 2020, que é o acompanhamento da implantação do plano e sua avaliação."

quinta-feira, 25 de março de 2010

Vagas no Ensino Superior em SP

Haddad: faltam vagas em universidades de SP
O Globo, 25/03/2010 – Rio de Janeiro RJ
Demétrio Weber

BRASÍLIA.Ao comentar ontem a migração de estudantes de São Paulo para universidades de outros estados, no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que isso é resultado do pequeno número de vagas em instituições públicas de ensino superior paulistas, considerando o tamanho da população. Para o ministro, antes um estudante pobre não tinha vez no estado e o governo federal está corrigindo o problema com a criação e ampliação de universidades federais e com programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas a jovens de baixa renda em faculdades privadas. - É o estado que menos vaga pública tem (proporcionalmente à população) - disse Haddad. - O paulista de baixa renda não tinha oportunidade de estudar. O ministro destacou que 28% das vagas do ProUni em todo o país são oferecidas em São Paulo, estado que concentra o maior número de instituições privadas. Ele citou a criação da Universidade Federal do ABC.
O Sisu selecionou estudantes com base no Enem. Das 33.039 vagas preenchidas pelo Sisu até a terceira etapa de inscrições, 2.745 foram em instituições paulistas. Balanço do MEC mostra que 2.531 estudantes de São Paulo matricularam-se em instituições de outros estados, sendo que 202 em faculdades no Nordeste. A Universidade de Brasília (UnB) divulgou que o próximo Enem será realizado nos dias 6 e 7 de novembro. As datas foram discutidas anteontem por Haddad e reitores, mas não foram confirmadas oficialmente ontem pelo MEC.

MEC quer propor ENEM nos dias 06 e 07 de novembro.

MEC quer Enem após eleições, nos dias 6 e 7 de novembro
Data será confirmada pelo Inep; universidades paulistas querem que o exame ocorra o mais cedo possível
O Estado de São Paulo, 25/03/2010 - São Paulo SP
Eugênia Lopes - O Estadao de S.Paulo

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deverá ser aplicado neste ano nos dias 6 e 7 de novembro, após as eleições - o primeiro turno ocorrerá no dia 3 de outubro e o segundo, no dia 31. A data final da prova será confirmada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC). "É pouco recomendável fazer o Enem entre o primeiro e o segundo turno das eleições", disse ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad, após participar de audiência pública na Comissão de Educação da Câmara. No ano passado, o governo federal foi obrigado a cancelar o exame, previsto para o início de outubro, e remarcar uma nova data, em dezembro, porque a prova vazou. O MEC foi alertado sobre o vazamento pelo Estado. A data de realização da prova não agradará a todos. As universidades de São Paulo são favoráveis à aplicação do Enem o mais cedo possível, mas os demais Estados defendem que a prova seja feita depois das eleições.
Haddad voltou a afirmar que o MEC desistiu de fazer um Enem no primeiro semestre deste ano depois da descoberta de fraude no exame nacional da Ordem dos Advogados (OAB) do Brasil, em março. Em seu depoimento à comissão de Educação, Haddad garantiu ainda que a sobra de vagas nas universidades federais será de cerca de 2% do total de 48 mil vagas oferecidas - ou seja, em torno de mil vagas. Ele rebateu ainda as críticas de que São Paulo estaria "exportando" estudantes para universidades públicas de outros Estados. "São Paulo tem poucas vagas em universidades públicas em relação a sua população e, por isso, é natural que os jovens procurem oportunidades em Estados vizinhos, como Minas Gerais", disse Haddad.

Pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o candidato pode usar a nota do Enem para ingresso nas universidades que adotaram o exame como vestibular. Segundo dados do MEC, São Paulo foi o Estado que mais se beneficiou do sistema unificado de seleção. O Estado recebeu 169 estudantes de fora em suas universidades federais e enviou um total de 2.531 alunos para outras regiões. Minas Gerais foi o principal destino, com 730 matrículas, seguido do Rio Grande do Sul, Amazonas, Piauí e Mato Grosso. Seleção unificada. O MEC informou ontem que realizará o Sisu no meio do ano, com algumas mudanças. A seleção será feita em apenas uma etapa, em vez das três atuais. Cada aluno poderá se inscrever em, no máximo, três opções diferentes de cursos. Também foi aprovada a criação de uma lista de espera, de onde serão chamados sucessivamente os alunos inscritos até que todas as vagas sejam preenchidas. O objetivo da lista é acabar com as vagas não preenchidas.

Avaliação e Gestão Escolar

Bons resultados não se devem só à escola
> Folha de São Paulo, 20/03/2010 - São Paulo SP
SILVIA COLELLO ESPECIAL PARA A FOLHA

Avaliar escolas é uma tarefa complexa. Isso porque o impacto da escolaridade sobre o estudante vai além da esfera cognitiva. Tem implicações ao longo da vida: sua visão de mundo, modo de inserção social, raciocínio crítico, habilidade de organização e planejamento, criatividade, liderança, postura ética, senso de responsabilidade e compromisso social, entre outros aspectos. Na amplitude do processo educativo, parece difícil apreender tantas metas desejáveis na formação humana. Por isso, a precariedade da cultura avaliativa no Brasil muitas vezes se reduz à publicação de um ranking de escolas, elaborado com base em uma única prova (como é o caso do Enem), cujos critérios nem sempre são evidentes para a população. Assim, os valores educativos se submetem aos números e acirram a dimensão empresarial das escolas. As avaliações traduzidas pelo ranking acabam servindo como recursos mercadológicos que definem o fluxo na busca de escolas. Nesse contexto, a pesquisa Eduqual com ex-alunos de 11 colégios em SP configura-se como iniciativa relevante porque, ao incorporar critérios nunca antes considerados, acaba por agregar dados, ampliar a visibilidade sobre o conjunto do esforço educativo e sofisticar os mecanismos de avaliação.

A despeito dos méritos, há duas ressalvas. Os bons resultados dos alunos não se devem só à ação escolar mas também ao perfil da clientela. Os estudantes de escolas particulares são aqueles que têm maior acesso à cultura letrada, mais experiências extraescolares, melhores condições de frequentar as universidades e chances de chegar ao mercado. É preciso admitir: as boas escolas são boas também porque lidam com um público com mais probabilidade de se inserir produtivamente. A respeito do uso institucional da avaliação, é preciso ter cautela com a eventual manipulação: com mais dados à disposição, o arranjo na mostra e omissão de resultados pode se constituir como um instrumento a serviço do mercado escolar, perpetuando os vícios das práticas avaliativas. Outra vez, o senso crítico e o compromisso com a educação nos levam a questionar: avaliar a educação, como e para quê? SILVIA COLELLO é professora da Faculdade de Educação da USP

Outra via de avaliação da Escola

Colégios "top" mapeiam ex-estudantes
Pesquisa do Datafolha encomendada por 11 escolas de SP ouviu 1.500 pessoas; objetivo é reduzir importância do Enem. Estudo analisa situação econômica dos ex-alunos; as graduações de direito administração e engenharia são as mais procuradas
Folha de São Paulo, 20/03/2010 - São Paulo SP
FÁBIO TAKAHASHI DA REPORTAGEM LOCAL

Na tentativa de diminuir o peso do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como indicador de qualidade, colégios particulares de São Paulo decidiram criar avaliação própria. Por meio do Datafolha, entrevistaram 1.500 ex-estudantes, para apurar itens como salário atual dos egressos e autoavaliação em relação ao poder de negociação. Participaram da pesquisa, que será anual, 11 escolas (entre eles Bandeirantes, Vera Cruz, Oswald de Andrade, Gracinha e Lourenço Castanho). A posição delas no último Enem varia de 2º a 140º, num universo de 423 colégios privados paulistanos. As escolas dizem que os dados, inéditos no país, serão usados para corrigir seus pontos fracos e para apresentar melhor a instituição aos pais, tanto aos que já têm filhos estudando no colégio quanto aos interessados em uma vaga. Os resultados estão em fase final de tabulação, mas já está claro que os ex-alunos (são considerados no levantamento somente aqueles se formaram nas escolas) se autoavaliam mais positivamente nos itens ética, comprometimento e postura; as notas mais baixas são para negociação, raciocínio numérico e responsabilidade social. As escolas, cuja média de mensalidade é de R$ 1.650, foram bem avaliadas (nota 8,7). Dos ex-estudantes, 73% se graduaram em uma universidade privada -USP e PUC são as preferidas. Os cursos universitários mais procurados pelos egressos foram administração, direito e engenharia.

Avaliação ampla - "Hoje o pai só sabe a mensalidade e a nota no Enem. Se o aluno daquela escola não sabe trabalhar em grupo ou negociar, o exame não mostra", afirma Eugênio Machado Cordaro, diretor do Oswald de Andrade e um dos coordenadores da pesquisa (delineada pelo Instituto Eduqual). Cada colégio receberá relatório individual, com os resultados de seus egressos. A ideia é expandir a pesquisa para outras escolas nos próximos anos. "Não sejamos ingênuos. Há uma grande disputa por alunos, e esses colégios cobram caro. As informações serão usadas para convencer pais", afirma a professora Angela Soligo, da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Tomara que [as informações] sejam usadas também para melhorar o ensino. O pai deve estar atento ao que será mostrado", completa a pesquisadora.

Sedentarismo - Um dos pontos que mais preocuparam as escolas foi o sedentarismo: aproximadamente 35% dos ex-estudantes disseram que não praticam exercícios regularmente. "Teremos de repensar como abordamos o físico, a alimentação saudável. Temos focado mais as atividades intelectuais, que são importantes, mas isso não é tudo", diz Cordaro, coordenador do levantamento. "A aula de educação física é descolada da aula de ciências. Isso precisa mudar", afirma Sylvia Figueiredo Gouvêa, diretora do Lourenço Castanho e assessora da pesquisa.

Projeto de Lei quer aprovar entrada de estudante na Universidade sem concluir Ensino Médio

Aluno poderá ingressar na universidade sem concluir ensino médio
Correio Braziliense, 19/03/2010 - Brasília DF
Agência Câmara

O Projeto de Lei 6834/10, do deputado Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), em tramitação na Câmara, autoriza matrícula em universidade aos estudantes que passaram no vestibular tendo concluído apenas o segundo ano do ensino médio. A proposta altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Atualmente, a LDB só permite o ingresso nas universidades para os estudantes que concluíram o ensino médio. Para o deputado, é comum que jovens passem em exames seletivos ainda no segundo ano. A proibição para a matrícula, na opinião dele, é injusta, pois o aluno mostrou possuir conhecimento para entrar em um curso superior. Tramitação - O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

sábado, 20 de março de 2010

Intervalos I...convivência, lazer e crescimento.

Momentos do intervalo do Ensino Médio: música, música ao vivo, esporte, bate-papo, e alegria!




Sensibilização...socialização...Integração e Aprendizado em QUÍMICA

Prof. Manuel com aula de sensibilização, socialização e integração com o 1o ano Ensino Médio,na construção do aprendizado.



Pensando uma edução com qualidade

Qualidade na educação
Gazeta de Cuiabá, 19/03/2010 - Cuiabá MT
Elias Januário

A sala de aula de uma escola é o espaço por excelência para se verificar os avanços e retrocessos num sistema educacional. É nesse microespaço que as mudanças do ensino avançam para o sucesso ou tornam mais um fracasso registrado na história da educação. Avançar para patamares que superem o sistema tradicional de ensino deve ser um propósito constante no contexto das salas de aula de todo o país. A escola tem uma importância fundamental na formação das novas gerações e consequentemente na consolidação de novos paradigmas.
Rever os modelos educativos existentes significa repensarmos o que ensinamos aos nossos alunos e como ensinamos a eles, para que tenhamos adultos comprometidos com as questões éticas, humanitárias, inclusivas e abertos ao mundo globalizado. Lamentavelmente ainda persiste em muitos estabelecimentos escolares e entre vários educadores e pais a perspectiva conservadora de que uma escola de qualidade é aquela que passa uma quantidade enorme de conteúdos para os alunos na forma de datas, fórmulas, conceitos e exercícios. Persiste a ideia de um aprendizado baseado na racionalidade, no desenvolvimento do aspecto cognitivo, que considera apenas como parâmetro para avaliação a quantificação. Esse tipo de processo de ensino-aprendizagem valoriza métodos medievais que vão da exposição oral a memorização, os treinamentos e a repetição.

Uma escola que se diferencia desse modelo, uma escola que ofereça um ensino de qualidade, deve primar por uma perspectiva de formação social e humanitária, buscando a aproximação dos estudantes entre si e das disciplinas como um meio de conhecer e transformar o mundo que o cerca. Podemos definir um ensino como sendo de qualidade a partir das condições do trabalho pedagógico desenvolvido, que entre outras coisas, possibilita a formação de redes de saberes e de relações que se entrelaçam por caminhos imprevisíveis para chegar ao conhecimento. Vamos ter ensino de qualidade quando a prática educativa pautar-se na solidariedade, na ajuda mútua, na troca de saberes entre todos os envolvidos no processo educativo. Nesta perspectiva de educação qualitativa, prevalecem os métodos de experimentação, a descoberta, a pesquisa, a criação, a busca do conhecimento. O importante é o que os alunos são capazes de aprender verdadeiramente no momento presente, para que se desenvolvam em um ambiente prazeroso e aberto a oportunidades para novas experimentações e possibilidades. Uma escola de qualidade deve ser também um espaço de construção de personalidade, de civilidade, de solidariedade. Deve-se buscar a consolidação de estudantes como pensadores autônomos e críticos. Nesses ambientes as crianças devem ser estimuladas a valorizar a diferença pela convivência com seus pares, pelo exemplo de seus professores, pelo clima de convivência estabelecido com toda a comunidade escolar. Escolas concebidas dessa forma não excluem nenhum aluno das atividades e do convívio escolar, onde todos têm possibilidades de aprender com qualidade frequentando uma mesma e única escola.

Caminhos para a Educação enfrentar

Desafios da educação
Jornal do Commercio, 19/03/2010 - Recife PE
João Batista Araujo e Oliveira

Cinco políticas poderiam transformar o próximo presidente da República no estadista que a educação jamais teve no Brasil: 1) atrair bons professores, 2) cuidar da primeira infância, 3) corrigir as distorções do ensino fundamental, 4) política de educação, emprego e renda para a juventude e 5) modernizar o ensino superior e o financiamento à C&T. Educação de qualidade se faz com bons professores. Isso requer uma carreira que atraia os jovens mais talentosos para o magistério. Uma possível estratégia consiste em associar um sistema nacional de certificação e/ou mérito com uma complementação salarial, a qual tornaria o salário do magistério compatível com as profissões liberais de maior prestígio, cuja média está em torno de R$ 3 mil. Isso requer um aporte anual de cerca de R$ 30 bilhões, que seria progressivamente implementado ao longo de 10 anos. Um exame de acesso benfeito levaria à imediata reformulação dos currículos das escolas de formação de professores.

Jim Heckman, prêmio Nobel de Economia comprovou: o investimento mais rentável para desenvolver recursos humanos situa-se nos primeiros anos de vida. A meta: assegurar que toda criança possa desenvolver o seu potencial, independentemente do nível de renda de sua família. Isso significa implementar políticas sociais articuladas que vão do pré-natal até pelo menos os primeiros anos de vida. Tais políticas, com foco nas famílias, especialmente nas mães, vão além da oferta de creches e requerem uma abordagem intersetorial e um leque de opções para atender às peculiaridades de cada família. Entre outros, a formação de futuros pais seria o melhor uso possível dos recursos do FAT para melhorar a vida e a renda da família do trabalhador.

Para começar a melhorar o ensino fundamental, precisamos superar três grandes gargalos. Primeiro, reaprender a alfabetizar as crianças no 1º ano escolar. Dados da Prova Brasil mostram que apenas metade das crianças do 5º ano da escola pública é alfabetizada. Garantir a alfabetização no 1º ano requer mudanças radicais: as soluções são conhecidas e estão disponíveis. Segundo, corrigir o fluxo escolar e erradicar, ao mesmo tempo, a pedagogia da repetência. Mais de 5 milhões de alunos do ensino fundamental encontram-se acima da idade de 14 anos, e mais de 10 milhões apresentam atraso escolar significativo. Alterações nos critérios de alocação do Fundeb poderiam induzir essas mudanças. Terceiro, efetivar a municipalização do ensino fundamental, prevista em lei. Esta é condição essencial para iniciar um processo de melhoria da eficiência de gestão educacional. Uma intervenção eficaz nessas três áreas pode significar uma economia anual recorrente superior a R$ 10 bilhões.
As políticas atuais penalizam os jovens na educação, formação profissional e emprego. Uma política para a juventude teria como foco o jovem de 15 a 30 anos. Na educação, cumpre diversificar o ensino médio e desatrelar os currículos do vestibular. Na formação profissional urge rever a legislação da aprendizagem, enfatizar habilidades não cognitivas e atrelar o financiamento da oferta à obtenção de emprego. A receita para o sucesso reside na coordenação de esforços com o setor produtivo, o uso racional dos recursos do FAT e a eficaz mobilização dos recursos e da competência gerencial do Sistema S na formação profissional. Acesso dos jovens a estágios e empregos se faz com incentivos ao setor produtivo.

O ensino superior permanece atado ao bacharelismo do século 19 e ao corporativismo do século 20. O perfil do novo ensino superior adequado ao século 21 está delineado nas orientações do Protocolo de Bologna. O financiamento ao ensino superior público pode ser aprimorado por uma política de financiamento em parte associada aos resultados. Na área da pesquisa permanece como maior desafio oferecer instrumentos financeiros conhecidos e utilizados em outras nações para estimular a participação do setor produtivo no desenvolvimento tecnológico do país e, assim, valer-se, dos talentos das universidades. Resta saber se o próximo presidente tem disposição para tanto.

Discutindo os eventos do Enem 2009

Trapalhadas do MEC
Gazeta de Cuiabá, 19/03/2010 - Cuiabá MT
Editorial

No ano passado milhares de estudantes brasileiros sofreram um grande baque com o cancelamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que substituiu os tradicionais vestibulares para ingresso nas faculdades públicas do país. O exame foi cancelado, em outubro, após o jornal "O Estado de S.Paulo" avisar ao Ministério da Educação que a prova tinha vazado. Depois de muitas desculpas, manifestações pelo país afora, um novo exame foi feito. Eis que mais problemas estão acontecendo, revelando que o Ministério da Educação, com sua nova fórmula, não consegue transmitir seriedade para os estudantes brasileiros que sonham com uma vaga nas faculdades públicas. Desta vez um problema técnico no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), registrado no domingo, fez com que estudantes não classificados para vagas em instituições federais de ensino superior aparecessem como convocados para matrícula. Alunos que viram seus nomes na lista de espera chegaram a procurar as instituições, mas não puderam preencher a vaga.

O problema tem reflexos em todo o Brasil. Em Cuiabá alunos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) denunciaram ao Ministério Público o "sumiço" de vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A reclamação é que, em questão de horas, os candidatos passam de aprovados para não aceitos, mesmo adquirindo pontuação suficiente. Nove estudantes de Mato Grosso tiveram esse problema, o mesmo registrado em todo o Brasil, e que leva o sistema mais uma vez a cair no descrédito.

O assunto ganha desdobramentos e as universidades mineiras já decidiram que vão dispensar o resultado do Enem de 2009 e fazer processos seletivos próprios no meio do ano. Em um documento assinado pelo Fórum das Comissões de Processos Seletivos de Minas Gerais (ForCops) e endereçado à Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), 15 instituições avaliam que o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está em "descrédito". A situação é complicada e o governo federal, através do Ministério da Educação, não vem demonstrando competência para solucionar o grave problema. A grande verdade é que o MEC não acertou nas mudanças. Centralizou e complicou. A educação no Brasil enfrenta problemas em todos os níveis e agora a questão se complica em nível universitário. Uma pena para o país e para o governo, que deveria ter a educação como prioridade.

terça-feira, 16 de março de 2010

Escolha de curso...profissão

Jovens priorizam experiência na escolha de curso
Formação baseada em carreira pré-universitária requer cuidado
Portal Universia, 15/03/2010
Luciano Testa

A escolha entre aptidão e conveniência é parte intrínseca das projeções futuras de muitos vestibulandos e até de estudantes universitários. Há aqueles que justificam o curso que fazem na falta de opção, tradição familiar ou baseado em perspectivas de mercado. Entretanto, existe uma fatia de estudantes que antes mesmo de escolher uma carreira acabam por arrumar uma profissão, ainda que para custear o próprio curso ou mesmo contribuir no orçamento familiar. Alguns deles, abandonam o sonho ou desistem da tarefa de escolher algo e decidem firmar raízes nesse caminho e continuar numa profissão que de paliativo passa a ser carreira. De acordo com Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, professor do Instituto de Psicologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os critérios elegidos pelos estudantes na hora de escolher um curso de graduação são muito pessoais. "Muitos escolhem uma profissão por acharem que aquilo vai lhe fazer feliz, outros por causa da família, ou até por já atuarem em determinada área. O que a pessoas tem de ter é a consciência de que todo critério adotado tem riscos e se tudo der errado, a escolha foi tomada por ela", diz Bicalho.

Mas a escolha de uma graduação apoiada na conveniência de uma atividade já realizada pode não ser de toda ruim. Há os que se encontram na área ao conviver com aspectos teóricos da mesma. Silvia Gasparian Colello, professora de psicologia da educação da FEUSP (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo), declara que a convivência no ambiente universitário pode até mostrar ao estudante aspectos da profissão que ele não enxergava e que isso contribui, em alguns casos, para reverter a posição inicial de repúdio ao emprego. "Ele começa a ter uma visão mais aprofundada do assunto. A partir disso, vê que o curso faz sentido e começa a gostar, além de obter melhor desempenho tanto no curso quanto no emprego", explica ela. Um fator importante para a escolha do curso a partir da área de atuação, é a experiência profissional adquirida durante o tempo em que se passa na lida com aspectos práticos de determinado segmento. Dayan Carlos Soares, estudante de ciências contábeis da UNIFAI (Centro Universitário Assunção), afirma que esse foi um ponto importante para a sua escolha, já que ele trabalha a quase seis anos num escritório desse setor. "Antes, pensava em fazer arquitetura, mas ao conversar com algumas pessoas percebi que a área de contabilidade tem potencial de crescer e minha experiência poderia fazer diferença. Se escolhesse outro curso teria de começar tudo de novo e adquirir experiência em outra área", justifica o rapaz.

Soares diz estar satisfeito com o conhecimento que adquire na faculdade e que o curso responde às expectativas. "Tenho algumas matérias diferentes do que estou acostumado a ver aqui no escritório, mas naquelas que tratam de contabilidade estou satisfeito, pois há muitos termos que já conheço na prática. Além disso, os estudos auxiliam no meu desempenho dentro da empresa", declara Soares. Ele acrescenta também que começou a fazer o curso porque queria agregar sua experiência com a parte teórica e acredita ter feito uma escolha que será boa para o seu futuro. Outro caso parecido com o de Soares é o de Eliene Alves Loiola, estudante do curso de administração na Universidade Anhembi Morumbi. Antes de começar a trabalhar como assistente administrativa, ela diz que pensava em fazer algo relacionado à área da saúde, como medicina, enfermagem ou nutrição. "Só depois de seis meses neste trabalho é que fui começar a estudar e decidi fazer administração, pois já estava na área e queria crescer aqui dentro", resume ela. Hoje, Eliene cuida da parte de comunicação de uma empresa privada do setor de saneamento básico. "Como estou nessa área e gosto do que faço, penso em fazer algum curso de especialização, ou na área de comunicação ou em gestão ambiental, pois tenho bastante vontade em continuar na empresa", afirma ela.

Além das vantagens de ingressar no curso em que já atua, existem também as desvantagens, que podem variar entre de estudante para estudante. Como avalia Dulce Helena Penna Soares, professora do Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e Coordenadora do LIOP (Laboratório de Informação e Orientação Profissional). "Por um lado, tem a vantagem de entrar na faculdade com conhecimento daquilo que se estuda, pela prática que se utiliza. Por outro lado, a carreira pode não ter muito sentido pessoal ou ser muito atraente e a pessoa não fica satisfeita", alerta ela. A professora acrescenta que a decepção com uma carreira diferente daquela que se sonha, no final das contas, pode trazer graves consequências. Segundo ela, há o risco da mediocridade, em função do desgosto em relação ao que faz, que pode ser o primeiro passo para o fracasso futuro na carreira. "O prejuízo mais tarde pode ser, além de emocional, até mesmo físico, pelo fato de não estar contente", pondera Dulce. Ela completa que, se essa formação fizer mal para o estudante, o melhor é largar o que faz e começar tudo de novo. "Tem de ter coragem. Tem de avaliar o nível de sofrimento e parar de ter a fantasia do que pode ou não dar certo", aconselha ela.

Muitas vezes, há quem ache arriscado largar a faculdade para começar tudo de novo em outro curso. Ou porque algumas delas têm o incentivo da família e não querem decepcioná-los. Silvia explica que carregar esse sentimento de coisa mal resolvida, tende a gerar frustração cada vez mais amarga. "A não resolução disso traz efeitos no próprio emprego", diz professora de psicologia da educação da FEUSP. Dulce sugere que cada um use a chamada "Técnica da Balança", onde ela pesa os prós e os contras e os ganhos e as perdas que a escolha tomada pode trazer para sua vida. "Tem de conversar bastante, principalmente com seus entes próximos, para que eles também avaliem como está o desempenho", resume ela. A professora também recomenda que se faça aquilo que realmente se gosta, se possível, em seus horários livres. De acordo com ela, a partir disso, cada um poderá fazer uma passagem alternativa para a profissão de sua preferência.

Questionamento e educação como processo

Educação é um processo. Questionar é preciso...
Revista Gestão Universitária, Edição 216
Joana d’Arc Mariano Taveira

Educa-se pelo conhecimento, pelo convívio, pela esperança, pela fé, pelo amor e por osmose espiritual. Tudo o que o educador é e sente passa para seus educandos... Assim sendo, pelo reconhecimento ao seu valor e até por inteligência,toda comunidade:pais, políticos, religiosos, imprensa, mídia, justiça, organizações etc, deveria reconhecer sua importância e influencia em todos os setores da comunidade através de seu alunado: -até onde seu contato inicial se faz sentir? È impossível mensurar,pois são muitos os alunos,e cada qual possui:pais,avós,tios,irmãos,amigos,colegas etc... Sem dúvida,é incomensurável a força de um professor e a dimensão de sua influencia. E levando em consideração sua importância é que toda comunidade deveria desfraldar uma bandeira de valorização e vontade política para que esse profissional seja respeitado, sendo-lhe pago um salário digno que é seu meio de subsistência. O professor precisa estar sempre alegre,feliz,cheio de energia e entusiasmo para comunicar a seus alunos a alegria de aprender. E como conseguir isso,se seu salário não cobre as suas necessidades vitais e de sua família?Se suas preocupações ,às vezes extrapolam suas resistências emocionais?

Qualidade em educação passa essencialmente ,primordialmente pelo professor,passa pela sua satisfação,seu equilíbrio,seu conhecimento,sua competência,sua esperança,sua alegria. Sem salário que cubra suas necessidades existenciais de sobrevivência,cultura e progresso,nada disso é possível,nada é verdadeiro. E a tão sonhada liberdade?Os educadores são escravos dessa condição aviltante, degradante, onde falam, questionam, protestam, reivindicam e não são atendidos. Incautos os governantes vão deixando para depois a urgência que está causa requer e merece. Os educadores sonham com um computador,com novos livros,com uma pós-graduação,um mestrado, um doutorado...Mas sua realidade não permite.

Premio por produtividade excluem os aposentados das melhorias salariais. Apesar dessa realidade,os educadores sobreviverão .A cada dia surgirão novas falas rompendo o silencio ,o medo e a vergonha da realidade a que os impuseram. E bravamente seguirão fazendo sua história acontecer. E sem dúvida continuarão a viver o poema de Cecília Meireles:”APRENDI COM A PRIMAVERA A ME DEIXAR CORTAR E VOLTAR SEMPRE INTEIRA...” E é pela ação desses educadores, que além do tempo e do espaço,surgirá uma geração mais plena e consciente,revertendo a realidade que hoje impera :A desmoralização do professor. Concluindo parabenizo a GILBERTO DIMENSTEIN pelo seu artigo, publicado no clipping de 1/2/20010

Estudo afro-brasileiro na Educação

A dificuldade de ensinar temas afro-brasileiros
Lei exige que conteúdos relacionados à cultura negra estejam no currículo das escolas, mas faltam professores qualificados e material didático adequado
Gazeta do Povo, 16/03/2010 - Curitiba PR
Renan Colombo, Jornal de Maringá On-line

Maringá - Há sete anos, a história afro-brasileira se tornou obrigatória na matriz curricular das escolas de nível fundamental e médio de todo o país, públicas e privadas. Especialistas avaliam que a exigência ampliou o conhecimento dos estudantes sobre a África e suas relações com o Brasil, mas ainda falta qualificação aos professores e adequação à parte do material didático levado para sala de aula. “Há três coisas necessárias para o sucesso da lei: a capacitação dos professores, a existência de material didático de qualidade e a criação de equipes multidisciplinares para acompanhar esse trabalho”, diz o professor Celso José dos San­tos, que dá aulas de História em um colégio público de Paranavaí. Ele é integrante do Fórum Per­manente de Educação e Diver­sidade Étnico-Racial, uma entidade, criada há quatro anos, que acompanha de perto a implantação da lei no Paraná. O órgão é formado por professores e representantes governamentais e também do movimento negro.

O problema mais sério é o despreparo dos professores, especialmente os mais velhos, já que muitos não estudaram a fundo a história e a cultura da África. “Se pedirmos para os professores de nível fundamental citar cinco países africanos e suas respectivas capitais, muitos terão dificuldade. A maioria não conheceu quase nada sobre o continente durante o curso de graduação”, afirma a professora Maria Cecilia Pilla, coordenadora de um curso de especialização em História da África, oferecido pela PUCPR.

Para suprir a falha de formação, os professores têm à disposição, além dos cursos pagos, capacitações promovidas pela Secretaria de Estado de Educação (Seed). O órgão promove oficinas sobre a história e a cultura afro-brasileira desde o ano de criação da lei, em todos os Núcleos Regionais de Educação. A lei não prevê a criação de uma disciplina exclusiva, mas estabelece que o assunto seja incluído, de forma multidisciplinar, no programa pedagógico das escolas. Na prática, as matérias que abrigam esses conteúdos são, em geral, Língua Portuguesa, Artes e História. A solução definitiva, porém, está na incorporação da temática nos cursos de graduação. “Enquanto esse conteúdo não for incluído nas licenciaturas, a lei não será efetivamente implementada. Os professores precisam chegar à rede já com esse conhecimento”, defende o coordenador do Núcleo de Educação das Relações Étnico-Ra­­ciais e Afrodescendência (Nerea) da Seed, Cassius Marcelus Cruz.

Material di­­dático - A lei estabelece que os professores de­­vem fa­­zer “abordagens positivas, sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno negro-descendente mire-se positivamente”, conforme a resolução de 2006 do Conselho Estadual de Educação (CEE). Para verificar se isso realmente ocorre, o fórum tem uma equipe que avalia o material adotado pelas escolas. “Os livros vêm procurando se adequar, mas ainda existe entre nós uma cultura que tem fortes raízes discriminatórias. Por vezes, algo preconceituoso passa despercebido por quem elabora o material”, relata Cruz.

Há ainda a questão da estrutura institucional para acompanhar esse processo. O CEE determinou a criação de equipes multidisciplinares que trabalhem com a diversidade em todas as escolas do estado. A maioria já as adotou, o que é um avanço. Na regional de educação de Maringá, que engloba 25 municípios, somente um colégio não havia cumprido a determinação, até o ano passado. Mas nem sempre as equipes, que em média são formadas por 15 professores, funcionam efetivamente. Diante da dificuldade, o fórum está elaborando uma instrução que irá orientar a atuação de todas as equipes. Outra iniciativa da entidade será criar um sistema exclusivo na ouvidoria da Seed para o relato dos casos de discriminação em sala de aula, considerados um termômetro do sucesso da lei. O sistema deve ser concluído neste semestre e permitirá avaliações mais concretas sobre o ensino da África nas escolas do Paraná.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Faculdade particular dá aula de reforço a calouro

Faculdade particular dá aula de reforço a calouro
Instituições oferecem curso de português e matemática para suprir defasagem. Para sindicato, ampliação de vagas derrubou o preço dos cursos e atraiu alunos de menor renda, que precisam aprender disciplina básica
Folha de São Paulo, 14/03/2010 - São Paulo SP
LIGIA SOTRATTI DA FOLHA RIBEIRÃO

Dificuldades em cálculos básicos -como multiplicar frações e achar porcentagens- ou dúvidas em grafia e concordância verbal e nominal. Devido à defasagem da maioria dos novos alunos, instituições particulares de ensino superior têm oferecido cursos de reforço em português e matemática a todos os calouros. Em muitos casos, os cursos são gratuitos e optativos e não constam da grade curricular. O que os diferencia é o nome: algumas instituições chamam de curso de aprimoramento, outras, de nivelamento. De acordo com o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), cerca de 70% das faculdades particulares paulistas oferecem algum programas de nivelamento. "O modelo é bastante diversificado. Tem instituição que faz plantão de dúvidas, outras fazem o reforço a distância e existe também a aula presencial", disse o diretor-executivo da entidade, Rodrigo Capelato.

Segundo a entidade, a preocupação com a defasagem do aluno surgiu nos últimos cinco anos e foi impulsionada pela ampliação da rede particular. "Com mais vagas no nível superior, caiu o preço médio e a população que vem do ensino público de má qualidade passou a ter acesso à faculdade", diz ele. Além da expansão das universidades privadas, professores também atribuem o aumento do acesso a programas como o ProUni e o Fies (fundo que financia o curso). Em Ribeirão Preto (313 km de SP), por exemplo, a Unaerp oferece as duas disciplinas. No Centro Universitário Moura Lacerda, o apoio é para exatas. "Como temos muitos cursos tecnológicos e de engenharia, as matérias optativas são física e matemática, áreas em que os alunos têm mais problema", disse o reitor da instituição, Glauco Eduardo Cortez.

Na Unip, há monitorias e revisão de conteúdos on-line. A vice-reitora da instituição Melânia Dalla Torre disse que o reforço visa "refrescar a memória" dos alunos. A estudante Karolyna Mendes Moura, 22, caloura de serviço social da Unaerp e bolsista do Prouni, faz parte do grupo de alunos que busca reforçar conteúdos escolares de matemática e português. A jovem, que estudou em escola pública no ensino fundamental e médio, diz que pretende aproveitar a oportunidade de corrigir seus erros. "Fiz cursinho na USP durante dois anos e pude aprender regras de acentuação, mas ainda tenho um pouco de dificuldade e troco letras. O som de "s" e "z" me confunde."

Preparação para acesso no ensino superior

Para educadores, preparação é necessária
Folha de São Paulo, 14/03/2010 - São Paulo SP
DA FOLHA RIBEIRÃO

Para especialistas da área de educação, são positivas e necessárias as aulas de reforço para manter o aluno no ensino superior. "Uma vez que esses alunos entraram, chegaram até a universidade, as escolas têm que se modificar para dar os conteúdos, aprender a trabalhar com esse aluno", afirma o professor da Faculdade de Educação da USP Rubens Barbosa. A coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp (Universidade de Campinas), Maria Márcia Sigrist Malavasi, diz que é preciso cuidado para formular o curso de recuperação de conteúdos. "Como vai ser dado esse aprimoramento, qual a duração, quem serão os professores, qual o preparo deles? Tudo isso tem que ser pensado", diz.

Para o especialista em políticas educacionais da USP de Ribeirão Preto José Marcelino Rezende Pinto, a deficiência dos estudantes não está somente nas escolas particulares. O problema ocorre também em faculdades públicas que, embora apliquem um processo de seleção mais rigoroso, têm alunos com dificuldades. "Mesmo na USP, há estudantes com deficiências de aprendizagem. Acho que as disciplinas são muito desarticuladas. Por exemplo, em um curso de biologia, o professor precisa também corrigir o português." Diferentemente das instituições particulares, a USP não mantêm programas regulares de reforço para ingressantes.

Ensino padronizado - proposta dos EUA para educação.

Ensino padronizado
Proposta uniformiza diretrizes de ensino para crianças e adolescentes nos EUA; apesar de críticas, plano tem adesão de 48 dos 50 Estados
Folha de São Paulo, 15/03/2010 - São Paulo SP
CRISTINA FIBE DE NOVA YORY

As escolas americanas devem adotar, ainda neste ano, pela primeira vez, uma proposta que padroniza as diretrizes para a educação de crianças e adolescentes no país. Hoje, o controle do currículo escolar é exercido localmente. Com a ajuda de representantes de 48 Estados, um painel de educadores elaborou o pacote, que define os conceitos básicos que os estudantes devem aprender, ano a ano, da educação infantil até o fim do ensino médio, em inglês e matemática. O projeto fica aberto a consulta pública até o dia 2 e deve ser concluído até o fim de maio, para que possa ser adotado, voluntariamente, já no início do próximo ano letivo, entre agosto e setembro. Para Lindsey Burke, analista política do instituto Heritage Foundation, "voluntário" não é a melhor definição. "O problema é que, desde o começo, muito dinheiro federal está sendo usado como estímulo. São US$ 4,3 bilhões sobre os quais a Secretaria de Educação tem o controle. Então deixa de ser voluntário." A verba federal, destinada à melhoria das escolas, é dividida entre os Estados segundo um sistema de pontos, e a adoção dos padrões nacionais pesará na média final. Se adotado, o novo sistema representará importante vitória para o governo de Barack Obama, que vinha apelando para que os Estados agissem para diminuir a desigualdade do aprendizado público. Até agora, apenas Alasca e Texas se recusaram a participar. Burke, como outros críticos à padronização, discorda que ela possa atenuar as desigualdades e argumenta que se trata de uma política "irrealista". "Os Estados é que deveriam determinar a educação", sentencia.

Já Kristen Amundson, que estuda políticas educacionais, acha que o sistema irá, sim, contribuir para a equalização do conhecimento. "Tratam-se de rigorosos padrões, com muito conteúdo. Eles podem ser catalisadores da melhora da educação nacionalmente. A tradição de controle local é forte nos EUA, mas faz sentido a troca para padrões comuns, já que as famílias estão se mudando cada vez mais." Segundo entidades que lideraram a elaboração das novas diretrizes, elas procuram estar "alinhadas às expectativas do mercado e do ensino superior", além de terem sido orientadas pelos "países de melhor performance, para que todos os estudantes estejam preparados para ser bem-sucedidos na sociedade e na economia globais". "Muitos Estados têm expectativas demais em seus padrões acadêmicos, que forçam professores a cobrir muitos assuntos de maneira superficial", disse Gene Wilhoit, diretor executivo do Council of Chief State School Officers (conselho de diretores estaduais de educação), que assina a elaboração do projeto ao lado da National Governors Association (associação nacional de governadores).

"Pensamos, "vamos manter [as diretrizes] compreensíveis, em um número que seja gerenciável. Não vamos colocar mais exigências do que os professores consigam cumprir'", afirmou Wilhoit ao jornal "The New York Times". A discussão sobre estabelecer um currículo escolar mínimo aconteceu no Brasil e se transformou, há 14 anos, na lei de diretrizes e bases para a educação nacional. Segundo Regina de Assis, que participou desses debates no Conselho Nacional de Educação, as diretrizes estabelecidas garantem que alunos de diferentes regiões do país tenham o direito, garantido por lei, de ter um conhecimento básico semelhante. "Nenhum aluno brasileiro pode saber menos que o determinado ali", diz Regina. O currículo mínimo, na opinião de Regina, não é uma amarra. "Existe um núcleo comum sobre o qual não se discute", diz a consultora, para quem as equipes pedagógicas têm autonomia e devem usar a criatividade para ir além do exigido. Colaborou a Reportagem Local

Mentes brilhantes

Mentes Brilhantes
Na mira dos ensinos público e particular, estudantes superdotados se destacam com inteligência acima da média
Folha de São Paulo, 15/03/2010 - São Paulo SP
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 13 anos, enquanto os garotos de sua idade estavam, em geral, no oitavo ano do ensino fundamental, Guilherme Cardoso passou no vestibular em química na Universidade Federal do Paraná. Em primeiro lugar. Guilherme é o que psicólogos chamam de "superdotado", ou seja, alguém com inteligência acima da média (leia à pág. 5). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 5% da população mundial tenha esse dom -no Brasil, seriam quase 10 milhões, segundo a conta. Especificamente no Estado de São Paulo, a Secretaria da Educação identificou 1.022 superdotados na rede pública em 2009. E o número está crescendo. Eram 397 em 2008. Não que os alunos estejam ficando mais inteligentes. "Creditamos esse aumento à formação dos professores, orientados para identificar esses talentos", explica Denise Arantes, técnica do centro de apoio pedagógico especializado da secretaria. Na rede pública, uma vez detectados por seus professores, os alunos com alta inteligência são orientados para atividades como a participação em concursos ou o ensino integral. Por enquanto, a maior mudança para Anaís Duarte, 14, de escola estadual, foi no empenho. "Fiquei animada e passei a escrever mais", diz. A garota foi identificada no começo do ano como talentosa na redação. Até agora, diz não participar de nenhuma atividade específica.

Pé no freio - Na rede pública paulista, porém, histórias como a de Guilherme -aquele que entrou na faculdade aos 13 anos- não são possíveis, pois a aceleração do ensino não é praticada. Já no ensino privado, se o aluno poderá pular etapas vai depender de como cada escola lida com a superdotação. Por um lado, "a inteligência emocional nem sempre acompanha a intelectual", ressalta Liliane Garcez, do Instituto de Educação Superior Vera Cruz. Por outro, "para o superdotado, ir para a escola pode ser tão maçante que se torna um sofrimento", afirma Maria Lúcia Sabatella, presidente do Instituto para Otimização da Aprendizagem -que diagnostica alunos com alta inteligência. O curitibano Charles Ribeiro, 17, foi outro que entrou na universidade cedo. Aos 14 anos, foi aprovado em engenharia da computação. Sua escola, porém, não emitiu o atestado de conclusão de ensino médio -e ele não pôde fazer o curso. "Esse tempo não foi desperdiçado", pondera o garoto. "Pude estudar alemão, vai ser um diferencial na minha carreira." Enquanto isso, Charles lida com o preconceito. "Foi complicado na escola", diz. "A diferença entre mim e meus amigos era impactante." Apesar dos mitos em torno dos superdotados, o rapaz já tirou nota vermelha em matemática. Explica: "O ambiente e a motivação influenciam". (DIOGO BERCITO)

Ministro da Educação faz balanço da sua principal linha de ação em sua gestão: o caminho para acabar com o vestibular no país.

Ministro Fernando Haddad faz um balanço da principal linha de ação de sua gestão:o caminho para acabar com o vestibular no país
Correio Braziliense, 13/03/2010 - Brasília DF
Glória Tupinambás

O futuro do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sobra de vagas nas universidades federais e possíveis mudanças no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em 2010. Em visita a Belo Horizonte (MG) esta semana, o ministro da Educação, Fernando Haddad, falou sobre esses temas e traçou um panorama do novo modelo de seleção, lançado no ano passado com a meta de substituir os tradicionais vestibulares. A mudança no formato de ingresso nas universidades foi a mais radical e inovadora já implantada no país desde 1911, quando surgiu a primeira versão brasileira do vestibular. Mesmo entrando para a história da educação como divisor de águas, a versão ampliada do Enem quase naufragou em meio a um turbilhão de problemas e trapalhadas e teve a sua credibilidade arranhada em episódios como a fraude da prova às vésperas da aplicação, o adiamento do teste, o índice recorde de desistência dos candidatos e a divulgação de gabaritos errados. Criado em agosto de 1998 para ser uma simples ferramenta de avaliação do desempenho de estudantes que acabavam de concluir o ensino médio, o Enem despontou, em março do ano passado, como a grande aposta de revolução no sistema de seleção de alunos interessados em vagas no ensino superior. No dia 25 daquele mês, o ministro Haddad propôs uma reformulação no teste para que o novo modelo substituísse os vestibulares das instituições federais de ensino. Os números superlativos davam a medida da importância do novo teste: mais de 4 milhões de candidatos inscritos para a prova que seria aplicada em 1.826 cidades brasileiras para ser adotada por 1.038 universidades, entre públicas e particulares, no lugar do processo seletivo tradicional, ou para compor a nota final dos alunos. Em Minas Gerais, 10 das 11 federais aderiram ao exame. Apenas a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) não deu seu voto de confiança ao sistema.

Entretanto, em 1º de outubro, o cenário de otimismo se converteu em pânico diante da denúncia de vazamento da prova, que seria aplicada nos dias 4 e 5 do mesmo mês. A fraude levou ao adiamento do Enem e, cercado de dúvidas e incertezas, o exame perdeu força entre muitas universidades que desistiram de usar o teste em seus processos seletivos. Os exemplos mais emblemáticos foram protagonizados por instituições paulistas, como a USP, a Unicamp, a Fundação Getulio Vargas e a PUC. Em seguida, foi a vez de os estudantes darem prova das desconfianças envolvendo o Enem. Mais de 40% dos inscritos desistiram de fazer a prova, aplicada em 5 e 6 de dezembro. Sisu - Em janeiro deste ano, o Enem voltou às manchetes de jornais com o lançamento oficial do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usou a nota do exame para oferecer 47,9 mil vagas em 51 universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia. O modelo pioneiro no Brasil fez sucesso por ser um grande leilão de vagas, em que os candidatos têm a chance de consultar a nota dos demais inscritos em cada curso e, assim, saber as reais chances de aprovação. A novidade, no entanto, foi alvo de especulação por parte dos alunos. Na primeira etapa do Sisu, quase 800 mil se inscreveram no sistema, mas apenas 18,6 mil aprovados fizeram a matrícula na universidade. O problema se repetiu na segunda etapa e o Sisu chegou à terceira fase com 45% das vagas ociosas. Em Minas, o percentual foi ainda maior e chegou a 49,9%, com 2.586 lugares não preenchidos. A sobra de vagas obrigou o Ministério da Educação a adotar uma lista de espera, em que os estudantes não selecionados na terceira e última etapa do Sisu podem manifestar interesse em continuar concorrendo a uma vaga. E, esta semana, o MEC cogitou a hipótese de fazer uma nova rodada de seleção, provavelmente em maio. A possibilidade ganhou ainda mais força depois que o ministério descartou, na última quarta-feira, a realização de uma nova edição do Enem no meio deste ano. Entre tantas novidades e especulação, o ministro Fernando Haddad fez um balanço do Enem em 2009 e falou das previsões de mudança para este ano. Leia abaixo os principais pontos da entrevista.

Ponto a ponto - BALANÇO DO ENEM - “O importante é que o processo de início do fim do vestibular começou. Tínhamos que acabar com o tradicional modelo de processo seletivo, que traz muitos inconvenientes para os estudantes, sobretudo os de baixa renda. Pessoas são submetidas a um método arcaico de seleção, que o mundo todo abandonou há um século.”

O TESTE EM 2010 - “A matriz de conteúdos será a mesma do ano passado. Vamos manter o programa até que as universidades e as secretarias de educação façam alterações tópicas. Isso vai dar tranquilidade a quem está entrando no ensino médio sobre aquilo que vai ter que estudar para ter um bom desempenho na prova.”

DUAS EDIÇÕES - “Para a segurança do sistema, achamos mais adequado fazer, ainda em 2010, uma única edição. A negociação com os órgãos de controle para que houvesse a dispensa de licitação consumiu muito tempo. Então, preferimos não correr o risco de fazer uma licitação nos moldes do ano passado, com chance de ganhar uma empresa sem qualidade e, eventualmente, sem condições de realizar o exame. Também não podemos negligenciar as recomendações da PF.”

DATA DA PROVA - “É provável que seja depois das eleições. Ainda vamos anunciar a data certa, pois temos o problema eleitoral, com dois fins de semana comprometidos em outubro.”

ADESÃO - “Entendo que cada universidade, a seu tempo, vai acabar aderindo. Mas o importante é não haver nenhum tipo de retrocesso, com a volta dos procedimentos anacrônicos que ainda são a regra no nosso país.”

PROBLEMAS DO SISU - “O comportamento dos estudantes que pela primeira vez participaram do sistema nos surpreendeu. Pessoas exploraram os cursos ao buscar a mera aprovação, só para ostentar o status de ser aprovado numa federal sem necessariamente ter a intenção de matrícula. Mas toda novidade está sujeita a isso.”

LISTA DE ESPERA - “Os reitores estão tranquilos com a introdução da lista de espera. Por causa desse comportamento dos alunos, tivemos uma perda de 15 dias no cronograma esperado, mas isso não acarretará nenhum tipo de prejuízo. A nossa expectativa agora é usar todo o mês de março para preencher 100% das vagas.”

MUDANÇAS NO SISU - “O sistema pode sofrer alterações na próxima edição, em virtude dessa surpresa com a atitude dos estudantes. Pode ser que, em vez de três etapas, façamos apenas duas, para evitar justamente um comportamento contraproducente, que impeça a matrícula de quem quer estudar.”
CRÍTICAS - “Reparos, sempre haverá. E, graças a Deus, temos liberdade democrática para que as pessoas possam sugerir e criticar. O importante é não colocar a perder o caminho que estamos seguindo. Mas sugestões, recomendações e críticas são bem-vindas, porque precisamos sempre aperfeiçoar.” "Para a segurança do sistema, achamos mais adequado fazer, ainda em 2010, uma única edição do Enem” Fernando Haddad, ministro da Educação
O número - 1.826 - Cidades brasileiras onde o Enem foi realizado

sábado, 13 de março de 2010

Como se forma um bom aluno - Parte I

> Revista Época, Edição 616
Como se forma um bom aluno
Todo pai quer que seu filho vá bem na escola. Só querer não basta. A seguir, oito lições de crianças que se destacam nos estudos
Camila Guimarães com Juliana Arini, Marco Bahé e Nelito Fernandes
Não há pai ou mãe que não sonhe com isso: que seu filho vá bem na escola, encontre uma vocação e faça sucesso. É por isso que os pais brasileiros, ouvidos em uma pesquisa do Movimento Todos pela Educação, disseram participar com afinco da vida escolar de seus filhos. Essa participação, porém, tem suas falhas – como mostra um detalhamento da pesquisa de 2009, feito com exclusividade para ÉPOCA. Em alguns casos, há falta de tempo (a queixa mais comum de quem tem filho em escola particular). Em outros, o principal obstáculo é o desconhecimento do conteúdo ensinado (para quem tem filho em escola pública). A pesquisa também detectou conceitos ultrapassados de como impulsionar o conhecimento. A maioria dos pais presta demasiada atenção às notas e preocupa-se menos em estimular a leitura ou acompanhar se a criança está aprendendo.

Em outras palavras: há mais cobrança que incentivo. É como se os pais considerassem que sua tarefa principal é garantir o acesso à escola – a partir daí, a responsabilidade seria dos professores. Isso é pouco, principalmente num país que não tem avançado satisfatoriamente na área da educação. O nível de ensino das escolas brasileiras, mesmo as de elite, é baixo, na comparação com os países mais avançados. Um relatório do Ministério da Educação, ainda incompleto, mostra que atingimos apenas um terço das metas do Plano Nacional de Educação, entre 2001 e 2008. A evasão escolar no ensino médio aumentou de 5% para 13%. Só 14% dos jovens estão na universidade. Menos de um quinto das crianças até 3 anos frequenta creches.E, no entanto, há ilhas de excelência. Há alunos brilhantes, curiosos, esforçados, interessados, capazes. Não estamos falando de superdotados. São meninos e meninas comuns, de colégios públicos e particulares, pobres ou ricos, que vão para a escola e... aprendem. Mais: formam-se. Estão no caminho de se tornar cidadãos melhores, pessoas melhores, gente de sucesso. Fazer com que uma criança seja assim não está inteiramente ao alcance dos pais. Pesquisas mundiais mostram que o envolvimento paterno responde por, no máximo, 20% da nota final. O restante seria determinado pela qualidade da escola, a relação com os professores, a influência dos colegas e, claro, seu próprio talento. Mas há, em cada um desses fatores, também uma influência dos pais. Cabe a eles analisar a escola, monitorar os professores, perceber o ambiente em que seu filho vive, estimular-lhe os talentos naturais. Talvez não seja possível fabricar bons alunos. Mas, como atestam as experiências dos garotos e das garotas desta reportagem, há boas receitas para ajudá-los a descobrir esse caminho.

1. O PODER DO INCENTIVO - O menino Pedro Manzaro seria um personagem improvável para uma reportagem sobre bons alunos. Aos 7 anos, ele começava o 3o ano sem saber escrever direito e com falhas de leitura. Em breve iniciaria aulas de reforço, com pouco resultado. Pedro era um retardatário na turma de alfabetização. Naquele momento, a diretora do colégio, de uma rede particular de São Paulo, chamou seus pais para uma conversa. Era preciso agir. Quando estão aprendendo as letras, as crianças têm um “clique”, um momento muito pessoal a partir do qual a escrita e a leitura deslancham. O “clique” de Pedro estava demorando demais. Que pai não ficaria apreensivo com uma situação dessas? Foi como Andréia e Sidnei Manzaro se sentiram. Mas logo trataram de agir. A estratégia foi usar a leitura – o menino adorava livros, vivia com eles embaixo do braço, apesar da dificuldade de entendê-los. Na casa da família, já havia a tradição de cada criança (Pedro tem dois irmãos mais novos) ter seu “dia de filho único”, quando os pais ficam só com ele. Durante a recuperação de Pedro, que levou um ano, seus dias de filho único eram sempre passados dentro de livrarias. Andréia passou a ler os livros de aventura, gênero favorito de Pedro, para conversar com ele sobre os vaivéns dos heróis das histórias (ela pegou gosto: está lendo agora o segundo livro da série Píppi Meialonga, sobre uma garota que viaja pelo mundo e odeia a escola).

Hoje, Pedro é considerado um aluno acima da média. Não é um colecionador de notas 10. Mas isso não preocupa ninguém. “O principal é ele gostar do que está fazendo”, afirma Andréia. O sucesso foi resultado de um esforço conjunto. A escola lhe deu atenção especial, com correção cuidadosa dos textos. O hábito da leitura fez outro tanto. Ler estimula a capacidade de compreender um texto, é um hábito fundamental na formação de seres pensantes. Está entre os quatro fatores comuns aos melhores alunos, segundo uma pesquisa feita pelo Ministério da Educação em 2007 (os outros são fazer lição de casa, ter atividades extracurriculares e pais engajados).

O terceiro impulso, crucial, para a recuperação de Pedro foi a torcida dos pais. O incentivo e os elogios deles ajudaram a construir autoconfiança e gosto pelo esforço. “A gente vivia dizendo para ele: ‘Filho, olha o que você conseguiu!’”, diz Andréia. O elogio é capaz de transformar. Mas é preciso ter cuidado com ele. Há uma ciência em seu uso. Segundo pesquisas americanas, crianças que recebem congratulações por seu desempenho e seu talento tendem a ficar mais preguiçosas e menos criativas. Aparentemente, ficam com medo de arriscar, porque um fracasso destruiria a imagem que conquistaram. Crianças que recebem elogios por seu trabalho duro, pelo esforço despendido para chegar àquele resultado têm reação inversa. Tornam-se mais persistentes, desenvolvem gosto pelo risco. E, quando fracassam, atribuem isso a um esforço insuficiente, não à incapacidade. Foi o que aconteceu com Pedro. “Mesmo com os sucessivos erros, nunca ouvi o Pedro se recusar a escrever um texto”, diz Beatriz Loureiro, a professora que acompanhou sua recuperação. Se os pais não sabem reconhecer as paixões naturais dos filhos, inibem o aprendizado, em vez de promovê-lo.

2. O PRAZER DE APRENDER - Guilherme Ortolan, de 9 anos, tem dificuldade de passar para a próxima fase. Não na escola. Essa ele tira de letra. O problema de Guilherme é que, quando joga um de seus games preferidos com o pai, esquece o objetivo. “Ele para o jogo para me dizer que a classificação de um dos bichos na tela está errada: aquele dinossauro não pode ser herbívoro e viver naquela parte da floresta se tem dentes tão pontiagudos, típicos dos carnívoros”, diz o pai, também Guilherme. A paixão do menino pelos dinossauros começou cedo. Ele nem era alfabetizado. Os pais souberam estimular seu interesse. Começaram comprando lagartos de brinquedo. Depois vieram os livros. E as pesquisas na internet. E os recortes de jornais e revistas (muitos deles presenteados pelos professores). A família inteira ficou envolvida pela mania, e Guilherme acabou virando “especialista”. Quando vai brincar com seus dinossauros, ele os organiza por período geológico. Ou por hábitos alimentares.

Esse processo mostra como uma paixão ajuda a estimular a criatividade, ensina a pesquisar por conta própria, tirar conclusões, fazer conexões. Se os pais e professores não sabem reconhecer e estimular as paixões naturais das crianças, se insistem para ela “largar de bobagens e se concentrar no que é sério”, inibem o aprendizado, em vez de promovê-lo. Com Guilherme, aconteceu o contrário. “O repertório dele é superior ao dos colegas”, diz Maria Isabel Gaspar, coordenadora pedagógica da escola em que ele estuda, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Não são raras as vezes em que ele já tem informações sobre o que está sendo ensinado na sala de aula.” Esse tipo de aluno – capaz de fazer associações e reflexões mais sofisticadas – as melhores universidades do país procuram. Em seus vestibulares, elas evoluíram da cobrança de acúmulo de informações para a capacidade de solucionar problemas. O Enem, a prova unificada de seleção aplicada pelo Ministério da Educação, segue a mesma linha.

Como se forma um bom aluno - Parte II

3. ORGULHO DO RESULTADO
Nem sempre o prazer de aprender vem da paixão por algo específico. Muitas vezes, trata-se do prazer de fazer bem feito, uma espécie de orgulho de ter realizado algo. Esse perfeccionismo move Gabriela Vergili, de 13 anos. Na primeira semana de aula, no mês passado, ela e a irmã mais nova, Geovana, chegaram em casa, em São Paulo, com a mesma tarefa (embora estejam em séries diferentes, ambas têm um professor em comum). Elas tinham de descobrir em que data cairia o Carnaval deste ano. Como sempre, as duas sentaram no mesmo horário para fazer o dever (a regra, na casa de dona Mércia, sua mãe, é fazer a lição logo depois do almoço). Geovana, eficiente, descobriu logo a data pedida: 16 de fevereiro. E foi brincar. Gabriela demorou mais. Pesquisou na internet, na enciclopédia Larousse, voltou para a internet. E escreveu um longo texto sobre Quaresma, Equinócio, fases da Lua e concílios religiosos. “A disciplina e a organização da Gabriela a ajudam a ‘aprender a aprender’ qualquer coisa”, afirma Luís Junqueira, professor dela no ano passado. “Por isso ela é tão versátil: tem texto redondo, sabe fazer um documentário em vídeo, vai bem na aula de artes e até na educação física.”

Essa disciplina é um ponto de honra para Mércia. Ela sempre foi rigorosa com os estudos das filhas. Além do horário da lição, à noite ela e o marido chegam do trabalho e tiram dúvidas das crianças. Quando a escola passa uma pesquisa, manda ler um livro, Mércia acompanha por telefone se as obrigações foram cumpridas. Essa rigidez – acompanhada do exemplo, senão o efeito pode ser o oposto – cria comprometimento com o estudo. “Quase sempre a criança vai buscar em casa como ela vai se relacionar com a vida acadêmica”, diz Débora Vaz, pedagoga e diretora de um colégio particular de São Paulo. Gabriela é concentrada para fazer seus deveres, cumpre o combinado com os professores, respeita o sinal da escola, devolve o livro da biblioteca dentro do prazo. Como mostra a pesquisa do MEC de 2007, o dever de casa é outro ponto em comum entre os bons alunos. Vários estudos comprovam que a lição de casa ajuda a assimilar conteúdos. Também é a forma mais fácil de verificar o aprendizado dos filhos. Por isso, os pais devem se envolver – mas não muito. A lição de casa tem de ser feita apenas pelo aluno. “É quando a criança está sozinha para lidar com todo o conhecimento que adquiriu em sala e vai decidir o que fazer com ele”, diz Harris Cooper, um acadêmico da Universidade Duke, Carolina do Norte, que há mais de 20 anos estuda a relação dos pais com a lição de casa. 4. RESISTÊNCIA A FRUSTRAÇÕES - Outra forma de a disciplina se manifestar é na resiliência. O termo designa a propriedade de um corpo de voltar à forma original depois de sofrer uma deformação. Por extensão, passou a ser usado por psicólogos como a capacidade de uma pessoa se recobrar de episódios ruins ou resistir a dificuldades. Em geral, a resiliência é alimentada pela determinação, uma característica encontrada em grande parte dos bons alunos. Um exemplo é Leandro Siqueira, de 16 anos. Ele acorda às 4h30. Pega um trem em Cosmos, Zona Oeste, a região mais pobre do Rio de Janeiro, rumo ao Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Fukow Fonseca (Cefet), uma das melhores escolas técnicas do país. Sai de casa sem tomar café – ou não chegaria a tempo à primeira aula, às 7 horas. Leandro faz a primeira refeição do dia às 12h30, no intervalo do período integral. Chega em casa às 20h30, janta e estuda até as 22 horas. Como seu quarto é pequeno, e a sala geralmente está ocupada, Leandro usa a varanda para ter a concentração de que precisa.

A maratona massacrante se justifica. Quando entrou na escola técnica, numa vaga que disputou com 50 candidatos, Leandro sentiu um baque. Ele sempre havia sido bom aluno, mas o desnível em relação à escola pública de onde vinha era grande demais. Pegar recuperação em três disciplinas não foi o pior. Pelas regras da escola, quem é reprovado duas vezes é expulso. Leandro teve medo de perder sua conquista. “Eu me cobrava muito e ficava pensando no dinheiro que meu pai gasta para eu estar aqui todo dia e almoçar”, afirma, logo depois do almoço num restaurante a quilo, onde gastou R$ 11. Suas notas se estabilizaram acima da média graças à severidade de seu plano de estudos, que inclui mais algumas horas de caderno aos domingos, assistido por uma tia professora de matemática. Os pais de Leandro, um instalador de gás desempregado e uma dona de casa, estudaram até a 8a série. Não conseguem ajudá-lo com os estudos. Mas não poderiam dar lição melhor que o sacrifício que fazem para lhe dar a oportunidade de um bom estudo.

Será possível incutir determinação em alguém? Em termos. A resiliência é, provavelmente, uma característica da personalidade. Mas os pais podem influenciar. Em geral, fazem isso para o lado errado. “Vemos muitos pais lenientes, enchendo seus filhos de facilidades”, afirma Maria Lúcia Sabatella, uma educadora especialista em crianças superdotadas. O resultado são crianças mimadas, com pouca resistência a frustrações. E uma tendência a desistir ante as dificuldades. Por isso, em seu programa dedicado a localizar bons alunos na rede pública, os pais também recebem aulas. Eles aprendem a estimular seus filhos e, especialmente, a não boicotá-los. “Temos de ensiná-los a formar indivíduos autônomos, independentes”, diz Sabatella.

5. O GOSTO DA COMPETIÇÃO - Os trigêmeos Joeverton, Joemerson e Joebert de Oliveira Maia, de 12 anos, foram medalhistas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) no ano passado. Joeverton foi medalha de ouro. Joemerson e Joebert ficaram com o bronze. Não é preciso dizer que eles são o orgulho do pai, José Jorge Maia, chefe da família de classe média baixa que vive na periferia de João Pessoa. Professor de matemática da rede pública da Paraíba, tudo o que José conseguiu até hoje foi com esforço: a casa onde mora e ter criado os três filhos só com seu salário, já que sua mulher, Selma, também professora, parou de trabalhar para cuidar dos bebês. “Sobrevivo com tudo o que aprendi na escola. É só isso que eu tenho e é isso que eu quero garantir para meus filhos”, diz.

Não é só discurso. José e Selma dão aos trigêmeos, todos os dias, três horas extras de aula, além da lição de casa. É como um treino de atletismo, com esforço repetitivo. José copia provas de olimpíadas de matemática antigas e dá como treino para os meninos. A vontade de vencer, atingir metas mais altas, destacar-se é um poderoso incentivo para os estudos. “Os melhores alunos não têm medo do desafio”, fiz Suely Druk, diretora da OBMEP. As aulas, no terraço da casa simples da família, não são apenas de matemática. Incluem ciências, português e história. Os meninos não se incomodam em suar a camisa. “Sempre foi assim aqui em casa”, diz Joemerson. O reforço ajuda a compensar as deficiências da escola municipal onde estão matriculados no 8o ano do ensino fundamental. “Queria que a escola puxasse mais. Estamos sem professor de história e de inglês”, diz Joebert. A postura de José faz com que os filhos não enxerguem a escola como um fardo, mas como solução. Os três querem se formar em engenharia da computação. Informática passou a ser a paixão dos meninos depois que Joemerson ganhou um computador num concurso de redação, há dois anos. De lá para cá, têm como passatempo navegar em redes de relacionamento, bate-papo e sites de jogos, como qualquer pré-adolescente. A diferença é que eles só fazem isso depois dos estudos.

Como se forma um bom aluno - Parte III

6. PENSAMENTO SOLTO
Um caminho alternativo, quase oposto ao da persistência dos trigêmeos Joebert, Joemerson e Joeverton, é a aposta na criatividade. Trata-se de, em vez de perseguir notas, liberar a imaginação. Pode-se construir uma argumentação forte contra a ênfase do sistema de ensino nas notas. Quando uma pessoa (criança, jovem ou adulto) se concentra em demasia no grau que receberá por um trabalho, deixa de apreciar o valor intrínseco dele. Em boa medida, a importância dada à nota é subtraída da alegria de aprender. Por isso é tão revitalizante observar crianças como Larissa Silvestre, de 9 anos, descobrindo o mundo, formulando conceitos, brincando. “A Larissa sempre foi criativa”, afirma sua professora de artes, Maria Luisa de Godoy. “Se eu pedia para ela recortar uma árvore, numa aula sobre contornos, ela me vinha com um varal cheio de roupas. Se eu ensinava a fazer uma peteca de sucata, em cinco minutos a peteca virava outro brinquedo.”

Sua mãe, Arlete de Epifânia, estudou até a 4a série e é cozinheira há 13 anos em uma casa de um bairro nobre de São Paulo. No ano passado, entrou pela primeira vez em um museu, quando a escola de Larissa convidou os pais a acompanhar os filhos numa visita ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). “Nunca imaginei que existisse um lugar como aquele e que minha filha fosse capaz de fazer o que ela fez ali”, diz Arlete. De lá para cá, quando tem tempo livre, ela tenta fazer programas que envolvam algum tipo de atividade artística. Se não dá, ajuda a filha a costurar roupinhas para suas bonecas. Parecem atividades que têm pouco a ver com as disciplinas escolares. Não é assim. A sensibilidade de Larissa para as artes faz dela uma criança observadora – o que a favorece na hora de resolver um problema de matemática ou associar fatos históricos. Segundo Maria Lúcia Sabatella, especialista em crianças superdotadas, gente criativa é extremamente concentrada. “Os grandes inventores, os maiores estrategistas, nos negócios ou na guerra, não fazem a sequência lógica de raciocínio”, diz. “Eles são criativos. Seu caminho para chegar à resposta pode até ser mais longo. Mas é singular.”

Esse argumento é contrário à má imagem dos alunos que ficam “rabiscando o papel” em vez de estudar a sério para a prova. “A produção artística exige do aluno um esforço que pode ser maior do que nas outras disciplinas”, afirma Paulo Portella, coordenador do Serviço Educativo do Masp. “A criatividade das artes exige construção de conhecimento – e não a simples repetição deles.” Uma criança com pendor para as artes pode ter um caminho de sucesso até maior que o de um aluno “certinho”, em áreas menos convencionais. Ou pode levar vantagem no próprio campo do estudo. Larissa, por exemplo, diz que não quer ser artista quando crescer. Ela quer ser veterinária. 7. A INSPIRAÇÃO DE ALGUÉM - Todo mundo tem alguém que admira. Pode ser a mãe, um professor, uma personagem histórica. Essa figura nos faz almejar ser melhor. Isso também é verdade nos estudos. Quase todo bom aluno tem um professor inspirador, um parente que quer imitar, um bom exemplo. Felipe Brum, de 10 anos, morador de Brasília, tem dois: seu avô materno, Ribamar Ferreira, e Bruno, seu irmão mais velho. Ribamar é engenheiro e serve de inspiração para Felipe desde que, numa visita à construção de uma pousada da família na Bahia, mostrou-lhe que a matemática serve para construir coisas. “Quero construir robôs para ajudar a salvar a humanidade do desmatamento”, diz o menino. “Para fazer meu robô, sei que vou ter de estudar engenharia.” Bruno, seu irmão mais velho, também segue a carreira do avô. Passou no vestibular com 16 anos. “Eu também quero passar na UnB”, diz Felipe, sem saber direito o que significa a sigla, da Universidade de Brasília. Seu plano para conseguir a vaga já está em prática. Estuda duas horas todos os dias e tem como meta a nota mínima 8.

A rotina de estudos de Felipe foi organizada pela mãe, Isabella, para que o menino superasse suas dificuldades de aprendizado. Há dois anos, ele foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção (TDA). Isabella, que é médica, mudou seus horários para se dedicar aos estudos do filho. O irmão mais velho também ajuda. “Ele me estimula a aplicar os cálculos em tudo o que faço”, diz Felipe. “Nunca imaginei que para construir computadores a gente usava matemática.” Ter o avô e o irmão como heróis é a motivação de Felipe. “São muitos os casos em que ter um referencial, um exemplo a ser seguido, é determinante para a motivação do aprendizado”, afirma Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. “Estimular isso é válido, mas com o cuidado de respeitar a individualidade da criança.” Porque pode acontecer o contrário: a criança se sentir intimidada pela figura de sucesso e se frustrar ao não conseguir ser como ela. Não parece ser o caso de Felipe. No ano passado, ele tirou 9,6 em matemática, disciplina em que tinha ficado em recuperação no ano anterior. “Agora só quero boas notas, sei que isso ajuda a passar rápido no vestibular, como foi com o Bruno.”

8. PLANOS DE MUDAR O MUNDO - Para que serve a escola? Em parte, ela é a instituição conformista por natureza. É lá que aprendemos os meios e modos do mundo, as tradições de nossa cultura, o que devemos fazer para ter sucesso, de acordo com as expectativas da sociedade. Mas ela é, também, o lugar do exercício das possibilidades. É nela que aprendemos a pensar por conta própria. Uma boa educação inclui a capacidade de questionar, experimentar, criar. Um traço comum entre maus alunos é que seus interesses estão fora da escola. Mas esse é também um traço comum entre os bons alunos. A única diferença é que os maus alunos perseguem seus interesses em detrimento do estudo. Os bons mesclam suas atividades ao estudo. Com isso, ganham capacidade crítica, vivência, experiência.

No ano passado, Marcelo Monteiro, de 16 anos, dedicou boa parte de seu tempo livre a um projeto especial: recuperar a imagem do grêmio estudantil do colégio onde cursa o 3o ano do ensino médio, em Porto Alegre. Sua função como primeiro secretário era negociar com a diretoria atividades para os alunos e melhorias na escola, tarefa complicada dada a reputação do grêmio até então. As gestões anteriores deixaram a organização quebrada. Ao assumir, Marcelo e seus colegas de chapa encontraram a sede pichada, sofás depredados, computador quebrado. “Tivemos de reconquistar a confiança do diretor e dos coordenadores para emplacar nossos projetos”, diz ele. Para reformar a sede, arrecadou dinheiro com os alunos (cobrando pelo serviço de fazer carteirinhas de estudantes) e pais de alunos (enviou cerca de 1.500 boletos opcionais no valor de R$ 20 para o endereço residencial dos colegas. Mais da metade dos pais depositou o dinheiro). Também organizou uma campanha para mobilizar o colégio a participar de uma espécie de gincana. O prêmio, dado para a escola com o maior número de inscritos, era um computador. Levou. No final do ano, já com a sede reformada e o prestígio do grêmio recuperado, Marcelo conseguiu autorização da diretoria para fazer um festival de música. Cada convidado levou 1 quilo de alimento, doado para entidades carentes. “Não sei quanto deu no final, mas lotamos a Kombi que a escola nos emprestou para fazer a entrega.”

Mesmo tão ocupado com articulações estudantis e organização de eventos, Marcelo está no topo das notas de sua turma. Vai tentar o vestibular para Direito. “Ele não tem medo de se meter em encrencas”, diz um de seus professores, Ivanor Reginatto, no colégio há 25 anos. “Nem todo bom aluno questiona tanto quanto Marcelo, mas essa sua capacidade o coloca entre os melhores.” De certa forma, Marcelo segue os passos de seus pais, Marisa e Rui. Ambos participaram de grêmios estudantis no colégio e na faculdade. Durante cinco anos, presidiram a Associação de Pais e Mestres onde Marcelo estuda. “Tentamos passar a ideia de que se engajar em atividades fora da sala de aula daria a ele a base que vai definir seu futuro profissional e pessoal”, diz a mãe. “Eles me ensinaram a priorizar o diálogo, a discutir questões que acho importantes”, diz Marcelo. É para isso que serve a educação. Para atuar no mundo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Professores e alunos devem ter relação mais próxima?

> Portal Universia, 11/03/2010
Professores e alunos devem ter relação mais próxima?
Envolvimento pode melhorar comunicação, mas atrapalhar outros aspectos
Roberto Machado
O modelo de ensino nas universidades, que até certo ponto obedece ao paradigma que acompanha os estudantes desde o Ensino Básico, tem se replicado de geração em geração. Evidentemente, na universidade, o relacionamento entre professores e alunos adquire novos contornos. Liberdade e distanciamento são conceitos que são elevados a patamares altos em comparação ao que os estudantes vivenciam no colégio. Mas por outro lado, no Ensino Superior, a relação do professor com os alunos pode se desenvolver muito além da sala de aula e, em alguns casos, se transformar no embrião de um contato entre profissionais da mesma área ou mesmo em amizade. Esse tipo de contato pode e costuma receber diferentes pontos de vista dos profissionais. Há quem defenda que esse tipo de interação deva ser abordado com cuidado. Um dos argumentos é o de que ela poderia interferir na própria dinâmica do relacionamento entre mestre e aprendiz. Outros alertam para o que a convivência mais próxima e menos formal entre estudantes e professores pode aparentar e como isso interferiria no ambiente de aprendizado. Ainda que busque aproximação com o universo discente para melhorar a qualidade da comunicação entre as duas pontas, o questionamento parece inevitável: o professore deve ou não se envolver no ambiente dos alunos?

Warde Marx, professor de comunicação da USJT (Universidade São Judas Tadeu), prefere pensar que está propenso a fazer grandes amizades dentro da sala de aula como em qualquer outro lugar. Ele costuma inclusive dar uma dica para quem assiste a sua aula pela primeira vez. "Digo a eles o seguinte: estamos começando um período de estudos juntos e nada nos impede que, além de colegas de profissão, nos tornemos amigos", conta Marx, sinalizando sua opinião de que esse contato mais próximo com o universo dos estudantes não causa problemas. O professor divide hoje sua estação de trabalho na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde participa na construção de projetos para a organização, com dois ex-alunos que se tornaram amigos. "Nós trabalhos juntos, rimos juntos e discutimos juntos, como bons amigos fazem", resume. Marx conjectura que essa atitude venha da época em que ele estava do outro lado da sala, como aluno. "Também tenho uma relação de amizade com pessoas que já foram meus professores e não é nada planejado, simplesmente aconteceu", diz ele. Mesmo sendo a favor do contato aluno/professor fora da sala de aula, não são todos os programas que atraem o educador. "Não costumo ir pra balada com meus alunos, mas um café com pão de queijo não faz mal a ninguém", conclui Marx.

Segundo Luis Mauro Sá Martino, professor de Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, há profissionais que acreditam que a sala de aula é um lugar onde deve existir o diálogo e a troca. De acordo com ele, o professor tem muito a aprender com os alunos. Martino diz que isso acontece porque o mundo do conhecimento não tem fronteiras, mas mesmo assim, a relação pedagógica vem carregada de poder, e nem todos (seja alunos ou professores) estão preparados para ela. Por esse motivo o professor acha importante se concentrar dentro do universo cultural de seus alunos. "Já li e ouvi muita coisa indicada por meus alunos e também já dei muitas dicas para eles e discutimos sobre isso juntos", exemplifica Martinho. Mas ele demonstra alguma reserva em relação a excessos nesse contato com os estudantes e diz preferir deixar para se tornar amigo de seus alunos depois do ano letivo. Ele procura resumir o porquê dessa decisão. "É complicado sair apenas com um aluno enquanto você convive com muitos outros dentro da sala", declara Martino, que durante sua época de aluno presenciou situações não tão agradáveis. "Já vi professores que davam mais atenção a alguns alunos por suas preferências culturais e políticas e não é bom ver esse tipo de coisa", critica ele. Ele diz ainda se encontra com alguns dos seus ex-alunos. "Na última semana, sai para jantar com um casal para quem já dei aula e que além de terem se casado depois da faculdade, se tornaram bons amigos meus", afirma o professor.

Para alguns alunos, é importante saber que podem contar com os conselhos e experiência de vida de seus mestres não apenas durante as aulas. É isso que explica Luis Fernando Magliano, aluno de ciências atuarias da USP (Universidade de São Paulo), que buscou num professor conselhos sobre um intercâmbio. "Acabei por descobrir que o meu professor na época havia morado na Austrália por dois anos. Por isso, resolvi pedir alguns conselhos para ele, quanto a minha possível ida ao país", conta o rapaz, que diz ter recebido suporte do professor. "Saímos para conversar e ele me contou sobre sua experiência no exterior", lembra Magliano. O próprio aluno consegue sentir em seu dia-a-dia na universidade que a linha que divide professor e aluno é cada vez mais tênue e também chega ao mercado de trabalho. "Talvez essa sensação seja influenciada pelo meu curso, onde alunos e professores acabam se encontrando com bastante frequência no mercado de trabalho", opina o estudante.

As universidades costumam usar um projeto institucional bem sólido na hora de contratar um novo professor. São critérios que reúnem fatores que englobam o trabalho em equipe, pesquisas acadêmicas com bases educativas e métodos que visam a desafiar o aluno em sala de aula. Esses fatores são importantes, mas não determinantes na hora da contratação, como explica a Sandra Difini Kopzinfki, coordenadora do Programa de Pedagogia da Universidade FEEVALE. "Vemos o ensino e o aprendizado como uma troca, por isso, um professor com perfil humanista se faz tão necessário", explica a coordenadora. Sandra acha apenas que um dos pontos que pode atrapalhar a amizade é a relação hierárquica que o professor exerce sobre sua turma. "Tudo vai depender muito do professor e do aluno para que o relacionamento siga seu rumo natural, já que esse 'poder' pode vir a diluir a amizade", alerta ela.

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