Brasil: um país de poucos leitores
Alfredo Leonardo Penz
A Notícia, 13/04/2010 - Joinville SC
Era uma vez, uma menina que saiu para visitar sua avó; era uma vez uma linda moça (branca como a neve) que morava em um castelo com sua família; era uma vez um boneco de pau que virou gente; uma galinha que colocava ovos de ouro; João e sua irmãzinha Maria; Alice, a que morava no país das maravilhas; uma linda menina que se apaixonou por uma fera; um elefante que tinha grandes orelhas e voava... é assim que se desenrola o imaginário literário. Quem de nós já não ouviu pelo menos uma dúzia de contos e histórias como essas? Quem de nós já não debruçou-se sobre as páginas de um livro, com o intuito de divertir, fazer sorrir e até dormir filhos, afilhados, sobrinhos? A leitura faz parte das nossas vidas desde a idade mais tenra e não poderia ser diferente: ou somos leitores ou ouvintes. Na verdade, primeiro ouvintes, para então nos tornarmos leitores.
Antigamente, se pensava que a leitura era uma atividade solitária. Hoje em dia, temos outra visão sobre ela. Chegou-se à conclusão de que, quando lemos, estamos em contato direto com o escritor. Mesmo que ele esteja a quilômetros de distância. Mesmo que estejamos há dias, meses, anos, décadas, milhares de anos distantes do autor, ainda concordamos, discordamos, dialogamos ou mesmo questionamos as palavras do escritor. Quando lemos estamos, mentalmente, vendo o rei leão saltando a passos largos, com sua cabeça num movimento de vaivém, com sua crina esvoaçante sendo levada pelo vento como se ela não conseguisse acompanhar o movimento do felino. Apesar de todas as benfeitorias que a leitura possa proporcionar, ainda somos, nós brasileiros, um país de poucos leitores.
Para o bom leitor, ler é interpretar e não simplesmente decodificar símbolos. Ler é, efetivamente, construir significados. É imaginar que o leão corre livre e solto pela mata, ou preso no seu cárcere chamado zoológico. Que pode estar a poucos metros do seu pensamento, sentindo o ar quente das suas narinas. O bom leitor, o consciente, diante do texto, o transforma e se transforma e, por conseguinte, naquele exato momento existe uma mudança no seu comportamento. Aí então ele aprende. Nós aprendemos.
O Brasil ainda é um país de maus leitores. Pelo menos é possível verificar o fato por meio de dados obtidos junto ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o Pisa. Há sete anos, 250 mil adolescentes de 41 países, com idade aproximada de 15 anos, participaram da avaliação que tinha como objetivo “produzir indicadores sobre a efetividade dos sistemas educacionais”. Infelizmente, nosso Brasil varonil classificou-se na 37ª colocação. É muito pouco para um país que quer se tornar a quinta maior potência mundial.
Talvez um desses reflexos seja a pouca leitura praticada na família. Pais que não têm o hábito da leitura não servem como bons exemplos à sua prole. Como se vê, o gosto pela leitura deve começar na família. E este hábito deve iniciar não somente na mais tenra idade, mas sim no ventre. Pais e mães devem começar a interagir com o bebê, lendo para ele. Desta forma, se acredita, seu gosto pelas letras tenderá a estar presente no DNA do futuro leitor. Assim, quando a criança chegar na escola, já deverá ter condições de interpretar, dentro da sua faixa etária, qualquer texto, tornando-se um construtor de significados. Falta de livro ou de dinheiro não é desculpa para não se praticar uma boa leitura – apesar de eles serem caros, aqui na terra verde-amarela, infelizmente. Feiras de livros, bibliotecas e sebos são fontes alternativas para o consumo literário. Você lê? Qual foi o último livro que você leu? Quando foi lido? Da próxima vez que você for comprar um presente a uma criança, a um adolescente ou a você mesmo, presenteie com um livro, um inteligente, daqueles que façam qualquer um viajar. Lembre-se do leão e corra atrás do saber. Só chegaremos a ocupar melhores espaços na economia, na ciência, na tecnologia, nas artes, nas “etcs.” por meio da boa leitura.
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