04/05/2010 - iG Educação
Ensino médio precisa de outros modelos de currículo
Crise verificada na etapa final da educação básica revela mudanças no comportamento da juventude mundial, afirmam especialistas
Brasília
Para atrair os jovens e incentivá-los a permanecer na escola, o ensino médio precisa adotar diferentes modelos de currículos. Em seminário promovido pelo Ministério da Educação e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a tese foi defendida por diferentes especialistas. Os diversos anseios da juventude – universidade, mercado de trabalho, arte, tecnologia – precisam estar contemplados nos projetos pedagógicos das escolas.
Segundo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (IETS), as metas para a etapa final da educação básica precisam ser baseadas em diferentes caminhos. Ele lembrou que estudo e trabalho não são, necessariamente, tarefas incompatíveis. Os projetos pedagógicos do ensino médio precisam considerar que esse pode ser um desejo e necessidade do jovem e abrir espaço para isso.
Simon ressaltou que as matrículas dos jovens nas escolas estão abaixo do esperado – cerca de 60% do potencial de alunos para essa fase. O dado revela, segundo ele, a necessidade de diferenciar sistemas de ensino para atender essa população. “Temos problemas a enfrentar, como baixa cobertura, abandono e ausência de alternativas, como ensino técnico e profissional.”
O pesquisador alertou que, hoje, o Brasil não possui nenhum instrumento que consiga medir a qualidade de ensino nessa fase. Para ele, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não é suficiente para isso. Ele acredita que o País terá de desenvolver ferramentas de avaliação.
Dados apresentados pelo representante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Michael Davidson mostram que a evasão dos estudantes brasileiros do ensino médio é preocupante. E os investimentos feitos na educação nos últimos anos não ajudaram a sanar esse problema. Apenas pouco mais da metade (55%) da população com idade entre 15 e 19 anos está matriculada em colégios ou faculdades.
A falta de estudo pode prejudicá-los no futuro. Segundo Ian Whitman, diretor de Educação da OCDE, 40% das pessoas que vivem nos países que fazem parte da organização e não terminaram o ensino médio não conseguem emprego depois. “É evidente que a educação é a chave para lidarmos com desafios econômicos da nossa era e superar crises”, ponderou.
Exemplos práticos
Experiências bem-sucedidas dentro e fora do País serão mostradas durante todo o seminário, que termina amanhã. O BID apresentará resultados de um estudo que mostram as boas práticas adotadas por secretarias estaduais e escolas brasileiras, que têm obtido sucesso no ensino e aprendizagem dos alunos. A pesquisa foi realizada no ano passado com 35 colégios de quatro estados: Acre, São Paulo, Paraná e Ceará.
A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda, afirmou que o ponto de partida das escolas que obtém sucesso é o mesmo já apontado por outras pesquisas realizadas com colégios de ensino fundamental: boa gestão escolar; professores empenhados e com boa formação, e boas expectativas sobre os alunos. “Não há novidades nesse sentido. O que percebemos com a pesquisa é que há secretarias estaduais com vontade de mudar a realidade.”
Pilar lembrou que o ensino médio passa por uma “crise mundial de identidade”. Em todo o mundo, especialistas discutem para entender qual o papel dessa etapa da educação básica. A secretária destacou que os países com maior diversidade étnica e cultural enfrentam ainda mais dificuldades para atender as necessidades da juventude. “Muitos alunos vêm de famílias em que eles são os primeiros a chegar ao ensino médio. Precisamos conhecer esses jovens e saber o que eles esperam da escola”, defendeu.
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