segunda-feira, 15 de março de 2010

Ministro da Educação faz balanço da sua principal linha de ação em sua gestão: o caminho para acabar com o vestibular no país.

Ministro Fernando Haddad faz um balanço da principal linha de ação de sua gestão:o caminho para acabar com o vestibular no país
Correio Braziliense, 13/03/2010 - Brasília DF
Glória Tupinambás

O futuro do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sobra de vagas nas universidades federais e possíveis mudanças no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em 2010. Em visita a Belo Horizonte (MG) esta semana, o ministro da Educação, Fernando Haddad, falou sobre esses temas e traçou um panorama do novo modelo de seleção, lançado no ano passado com a meta de substituir os tradicionais vestibulares. A mudança no formato de ingresso nas universidades foi a mais radical e inovadora já implantada no país desde 1911, quando surgiu a primeira versão brasileira do vestibular. Mesmo entrando para a história da educação como divisor de águas, a versão ampliada do Enem quase naufragou em meio a um turbilhão de problemas e trapalhadas e teve a sua credibilidade arranhada em episódios como a fraude da prova às vésperas da aplicação, o adiamento do teste, o índice recorde de desistência dos candidatos e a divulgação de gabaritos errados. Criado em agosto de 1998 para ser uma simples ferramenta de avaliação do desempenho de estudantes que acabavam de concluir o ensino médio, o Enem despontou, em março do ano passado, como a grande aposta de revolução no sistema de seleção de alunos interessados em vagas no ensino superior. No dia 25 daquele mês, o ministro Haddad propôs uma reformulação no teste para que o novo modelo substituísse os vestibulares das instituições federais de ensino. Os números superlativos davam a medida da importância do novo teste: mais de 4 milhões de candidatos inscritos para a prova que seria aplicada em 1.826 cidades brasileiras para ser adotada por 1.038 universidades, entre públicas e particulares, no lugar do processo seletivo tradicional, ou para compor a nota final dos alunos. Em Minas Gerais, 10 das 11 federais aderiram ao exame. Apenas a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) não deu seu voto de confiança ao sistema.

Entretanto, em 1º de outubro, o cenário de otimismo se converteu em pânico diante da denúncia de vazamento da prova, que seria aplicada nos dias 4 e 5 do mesmo mês. A fraude levou ao adiamento do Enem e, cercado de dúvidas e incertezas, o exame perdeu força entre muitas universidades que desistiram de usar o teste em seus processos seletivos. Os exemplos mais emblemáticos foram protagonizados por instituições paulistas, como a USP, a Unicamp, a Fundação Getulio Vargas e a PUC. Em seguida, foi a vez de os estudantes darem prova das desconfianças envolvendo o Enem. Mais de 40% dos inscritos desistiram de fazer a prova, aplicada em 5 e 6 de dezembro. Sisu - Em janeiro deste ano, o Enem voltou às manchetes de jornais com o lançamento oficial do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usou a nota do exame para oferecer 47,9 mil vagas em 51 universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia. O modelo pioneiro no Brasil fez sucesso por ser um grande leilão de vagas, em que os candidatos têm a chance de consultar a nota dos demais inscritos em cada curso e, assim, saber as reais chances de aprovação. A novidade, no entanto, foi alvo de especulação por parte dos alunos. Na primeira etapa do Sisu, quase 800 mil se inscreveram no sistema, mas apenas 18,6 mil aprovados fizeram a matrícula na universidade. O problema se repetiu na segunda etapa e o Sisu chegou à terceira fase com 45% das vagas ociosas. Em Minas, o percentual foi ainda maior e chegou a 49,9%, com 2.586 lugares não preenchidos. A sobra de vagas obrigou o Ministério da Educação a adotar uma lista de espera, em que os estudantes não selecionados na terceira e última etapa do Sisu podem manifestar interesse em continuar concorrendo a uma vaga. E, esta semana, o MEC cogitou a hipótese de fazer uma nova rodada de seleção, provavelmente em maio. A possibilidade ganhou ainda mais força depois que o ministério descartou, na última quarta-feira, a realização de uma nova edição do Enem no meio deste ano. Entre tantas novidades e especulação, o ministro Fernando Haddad fez um balanço do Enem em 2009 e falou das previsões de mudança para este ano. Leia abaixo os principais pontos da entrevista.

Ponto a ponto - BALANÇO DO ENEM - “O importante é que o processo de início do fim do vestibular começou. Tínhamos que acabar com o tradicional modelo de processo seletivo, que traz muitos inconvenientes para os estudantes, sobretudo os de baixa renda. Pessoas são submetidas a um método arcaico de seleção, que o mundo todo abandonou há um século.”

O TESTE EM 2010 - “A matriz de conteúdos será a mesma do ano passado. Vamos manter o programa até que as universidades e as secretarias de educação façam alterações tópicas. Isso vai dar tranquilidade a quem está entrando no ensino médio sobre aquilo que vai ter que estudar para ter um bom desempenho na prova.”

DUAS EDIÇÕES - “Para a segurança do sistema, achamos mais adequado fazer, ainda em 2010, uma única edição. A negociação com os órgãos de controle para que houvesse a dispensa de licitação consumiu muito tempo. Então, preferimos não correr o risco de fazer uma licitação nos moldes do ano passado, com chance de ganhar uma empresa sem qualidade e, eventualmente, sem condições de realizar o exame. Também não podemos negligenciar as recomendações da PF.”

DATA DA PROVA - “É provável que seja depois das eleições. Ainda vamos anunciar a data certa, pois temos o problema eleitoral, com dois fins de semana comprometidos em outubro.”

ADESÃO - “Entendo que cada universidade, a seu tempo, vai acabar aderindo. Mas o importante é não haver nenhum tipo de retrocesso, com a volta dos procedimentos anacrônicos que ainda são a regra no nosso país.”

PROBLEMAS DO SISU - “O comportamento dos estudantes que pela primeira vez participaram do sistema nos surpreendeu. Pessoas exploraram os cursos ao buscar a mera aprovação, só para ostentar o status de ser aprovado numa federal sem necessariamente ter a intenção de matrícula. Mas toda novidade está sujeita a isso.”

LISTA DE ESPERA - “Os reitores estão tranquilos com a introdução da lista de espera. Por causa desse comportamento dos alunos, tivemos uma perda de 15 dias no cronograma esperado, mas isso não acarretará nenhum tipo de prejuízo. A nossa expectativa agora é usar todo o mês de março para preencher 100% das vagas.”

MUDANÇAS NO SISU - “O sistema pode sofrer alterações na próxima edição, em virtude dessa surpresa com a atitude dos estudantes. Pode ser que, em vez de três etapas, façamos apenas duas, para evitar justamente um comportamento contraproducente, que impeça a matrícula de quem quer estudar.”
CRÍTICAS - “Reparos, sempre haverá. E, graças a Deus, temos liberdade democrática para que as pessoas possam sugerir e criticar. O importante é não colocar a perder o caminho que estamos seguindo. Mas sugestões, recomendações e críticas são bem-vindas, porque precisamos sempre aperfeiçoar.” "Para a segurança do sistema, achamos mais adequado fazer, ainda em 2010, uma única edição do Enem” Fernando Haddad, ministro da Educação
O número - 1.826 - Cidades brasileiras onde o Enem foi realizado

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