Doutrina ou boa formação?
Respaldada por um parecer favorável do Conselho Nacional de Educação, a decisão do governo recebeu aplausos e vaias
Daniel Rodrigues Aurélio
Revista Filosofia, Edição 22
No dia 2 de junho de 2008, o presidente em exercício da República, José Alencar, sancionou a Lei nº 11.684, tornando a Sociologia e a Filosofia disciplinas obrigatórias na grade curricular do Ensino Médio. Desde então, encontramos o texto "serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio" no item IV do artigo 36 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Respaldada por um parecer favorável do Conselho Nacional de Educação, a decisão do governo recebeu aplausos e vaias. A salva de palmas veio de sindicatos e educadores progressistas; os apupos, de setores conservadores da sociedade brasileira representados na linha de frente por políticos, jornalistas e pedagogos contrários à medida. Essa dissensão político-ideológica arrasta-se por décadas e contamina o exame equilibrado dos benefícios e perigos da incorporação dessas duas disciplinas no currículo escolar. A polêmica levou governos estaduais a estudarem formas de protelar o cumprimento da determinação federal, com base em ponderações sobre gastos excessivos e dificuldades operacionais para contratar, de imediato, quadros suficientes para preencher as vagas a serem abertas.
Durante a ditadura civil-militar (1964- 1985), Filosofia e Sociologia transformaram-se, nas universidades, em espaços de resistência ao autoritarismo. Ideias marxistas e revolucionárias pipocaram, muitos alunos acabaram presos e professores foram aposentados compulsoriamente. Curiosamente, porém, inúmeros quadros do regime (censores, burocratas e até militares graduados) tinham formação em ciências humanas e sociais.
Motivados, talvez, pelos clichês, articulistas da grande imprensa levantaram-se contra a Lei 11.684 sob o argumento de que tais aulas serviriam para a "doutrinação marxista", o blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, chegou a anunciar: "os molestadores ideológicos vem aí". Trata-se de uma visão simplista. A Sociologia e o tema desta revista, a Filosofia, não devem ser dirigidas por ideologias e dogmas, tampouco por pressões mercantilistas. A tarefa das duas é problematizar essas questões e tantas outras. E colocar os sujeitos para pensar. Quando aplicadas corretamente, exaltando a pluralidade de tendências, essas disciplinas contribuem para estimular o senso crítico (no sentido preciso do termo), melhoram a capacidade de raciocínio lógico e interpretação de textos, ampliam horizontes e estimulam a compreensão das disciplinas clássicas, da História à Matemática. A Matemática, sim. Afinal, ela deve muito à Filosofia e possui até campo específico dessa natureza, chamado de Filosofia da Matemática
terça-feira, 13 de abril de 2010
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