terça-feira, 13 de abril de 2010

A questão do material escolar - parte I

Material não passa por avaliação do ministério
Associação diz ter pedido ao MEC que avalie apostilas, mas ainda não houve resposta. Defensores do sistema afirmam que método poupa parte do trabalho pedagógico e facilita acompanhamento dos pais
ANTÔNIO GOIS DA SUCURSAL DO RIO
Folha de São Paulo, 03/04/2010 - São Paulo SP


Os tradicionais livros didáticos perdem cada vez mais espaço para as apostilas elaboradas por redes de ensino privado. Levantamento feito pela Folha mostra que ao menos um terço dos colégios particulares já adota esse sistema de ensino em substituição ou complemento dos livros. Dos 18 grupos identificados, apenas três -Etapa, Expoente e Ser- não quiseram divulgar seus números. Com as informações dos 15 demais sistemas, foi possível calcular que ao menos 7.000 escolas (33% do total de 21 mil instituições particulares de ensino fundamental e médio do país) trabalham com as apostilas.

Ao entregar para o professor um material estruturado e com planos de aula a serem seguidos, poupa-se parte do trabalho de coordenação pedagógica. Fica também mais fácil para pais e alunos acompanharem se o conteúdo previsto está, de fato, sendo transmitido. Especialista afirmam, porém, que o sistema pode tirar a autonomia do professor e, em alguns casos, dar pouca margem para trabalhar conteúdos regionais em escolas fora do Sul e Sudeste, onde se concentram os grupos educacionais responsáveis pelas apostilas. Outro aspecto negativo é que, ao contrário dos livros didáticos, as apostilas elaboradas pelos grupos não são avaliadas pelo Ministério da Educação. A Abrase (Associação Brasileira de Sistemas de Ensino) já propôs ao ministério que faça uma avaliação oficial, mas, afirma a entidade, ainda não houve resposta do MEC.

Origem - Os sistemas surgiram a partir de cursos pré-vestibulares de São Paulo e Paraná na década de 70, mas foi nos anos 90 que cresceram aceleradamente. Hoje já são vendidas apostiladas para todas as etapas da educação básica. Por ano, o custo varia entre R$ 100 -em séries iniciais do ensino fundamental e educação infantil- e R$ 1.000 -caso das apostilas voltadas a pré-vestibulares. Executivos desses grupos ouvidos pela Folha se dividem em relação ao potencial de crescimento. Há quem ache que, no setor privado, chegou-se perto do teto. Mas também quem aposte que ainda há muito a expandir.

Estimativas de faturamento do setor variam de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão por ano. Com o crescimento acelerado dos sistemas, empresas que lucravam com venda de livros didáticos, como as editoras Moderna, FTD, Ática/Scipione e a livraria Saraiva, tiveram de entrar no setor. José Arnaldo Favaretto, diretor de sistemas de ensino da Saraiva, afirma também que os livros didáticos tiveram que se adaptar aos sistemas, incorporando alguns serviços. "Hoje, muitas editoras agregam ao livro preparação de planos de aula e orientação ao professor, que são oferecidos pelos sistemas de ensino", diz ele. Além de apoio pedagógico, os sistemas atraem também escolas em busca de reforço de marketing, associando-se a uma marca mais forte.

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