Jovens priorizam experiência na escolha de curso
Formação baseada em carreira pré-universitária requer cuidado
Portal Universia, 15/03/2010
Luciano Testa
A escolha entre aptidão e conveniência é parte intrínseca das projeções futuras de muitos vestibulandos e até de estudantes universitários. Há aqueles que justificam o curso que fazem na falta de opção, tradição familiar ou baseado em perspectivas de mercado. Entretanto, existe uma fatia de estudantes que antes mesmo de escolher uma carreira acabam por arrumar uma profissão, ainda que para custear o próprio curso ou mesmo contribuir no orçamento familiar. Alguns deles, abandonam o sonho ou desistem da tarefa de escolher algo e decidem firmar raízes nesse caminho e continuar numa profissão que de paliativo passa a ser carreira. De acordo com Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, professor do Instituto de Psicologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os critérios elegidos pelos estudantes na hora de escolher um curso de graduação são muito pessoais. "Muitos escolhem uma profissão por acharem que aquilo vai lhe fazer feliz, outros por causa da família, ou até por já atuarem em determinada área. O que a pessoas tem de ter é a consciência de que todo critério adotado tem riscos e se tudo der errado, a escolha foi tomada por ela", diz Bicalho.
Mas a escolha de uma graduação apoiada na conveniência de uma atividade já realizada pode não ser de toda ruim. Há os que se encontram na área ao conviver com aspectos teóricos da mesma. Silvia Gasparian Colello, professora de psicologia da educação da FEUSP (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo), declara que a convivência no ambiente universitário pode até mostrar ao estudante aspectos da profissão que ele não enxergava e que isso contribui, em alguns casos, para reverter a posição inicial de repúdio ao emprego. "Ele começa a ter uma visão mais aprofundada do assunto. A partir disso, vê que o curso faz sentido e começa a gostar, além de obter melhor desempenho tanto no curso quanto no emprego", explica ela. Um fator importante para a escolha do curso a partir da área de atuação, é a experiência profissional adquirida durante o tempo em que se passa na lida com aspectos práticos de determinado segmento. Dayan Carlos Soares, estudante de ciências contábeis da UNIFAI (Centro Universitário Assunção), afirma que esse foi um ponto importante para a sua escolha, já que ele trabalha a quase seis anos num escritório desse setor. "Antes, pensava em fazer arquitetura, mas ao conversar com algumas pessoas percebi que a área de contabilidade tem potencial de crescer e minha experiência poderia fazer diferença. Se escolhesse outro curso teria de começar tudo de novo e adquirir experiência em outra área", justifica o rapaz.
Soares diz estar satisfeito com o conhecimento que adquire na faculdade e que o curso responde às expectativas. "Tenho algumas matérias diferentes do que estou acostumado a ver aqui no escritório, mas naquelas que tratam de contabilidade estou satisfeito, pois há muitos termos que já conheço na prática. Além disso, os estudos auxiliam no meu desempenho dentro da empresa", declara Soares. Ele acrescenta também que começou a fazer o curso porque queria agregar sua experiência com a parte teórica e acredita ter feito uma escolha que será boa para o seu futuro. Outro caso parecido com o de Soares é o de Eliene Alves Loiola, estudante do curso de administração na Universidade Anhembi Morumbi. Antes de começar a trabalhar como assistente administrativa, ela diz que pensava em fazer algo relacionado à área da saúde, como medicina, enfermagem ou nutrição. "Só depois de seis meses neste trabalho é que fui começar a estudar e decidi fazer administração, pois já estava na área e queria crescer aqui dentro", resume ela. Hoje, Eliene cuida da parte de comunicação de uma empresa privada do setor de saneamento básico. "Como estou nessa área e gosto do que faço, penso em fazer algum curso de especialização, ou na área de comunicação ou em gestão ambiental, pois tenho bastante vontade em continuar na empresa", afirma ela.
Além das vantagens de ingressar no curso em que já atua, existem também as desvantagens, que podem variar entre de estudante para estudante. Como avalia Dulce Helena Penna Soares, professora do Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e Coordenadora do LIOP (Laboratório de Informação e Orientação Profissional). "Por um lado, tem a vantagem de entrar na faculdade com conhecimento daquilo que se estuda, pela prática que se utiliza. Por outro lado, a carreira pode não ter muito sentido pessoal ou ser muito atraente e a pessoa não fica satisfeita", alerta ela. A professora acrescenta que a decepção com uma carreira diferente daquela que se sonha, no final das contas, pode trazer graves consequências. Segundo ela, há o risco da mediocridade, em função do desgosto em relação ao que faz, que pode ser o primeiro passo para o fracasso futuro na carreira. "O prejuízo mais tarde pode ser, além de emocional, até mesmo físico, pelo fato de não estar contente", pondera Dulce. Ela completa que, se essa formação fizer mal para o estudante, o melhor é largar o que faz e começar tudo de novo. "Tem de ter coragem. Tem de avaliar o nível de sofrimento e parar de ter a fantasia do que pode ou não dar certo", aconselha ela.
Muitas vezes, há quem ache arriscado largar a faculdade para começar tudo de novo em outro curso. Ou porque algumas delas têm o incentivo da família e não querem decepcioná-los. Silvia explica que carregar esse sentimento de coisa mal resolvida, tende a gerar frustração cada vez mais amarga. "A não resolução disso traz efeitos no próprio emprego", diz professora de psicologia da educação da FEUSP. Dulce sugere que cada um use a chamada "Técnica da Balança", onde ela pesa os prós e os contras e os ganhos e as perdas que a escolha tomada pode trazer para sua vida. "Tem de conversar bastante, principalmente com seus entes próximos, para que eles também avaliem como está o desempenho", resume ela. A professora também recomenda que se faça aquilo que realmente se gosta, se possível, em seus horários livres. De acordo com ela, a partir disso, cada um poderá fazer uma passagem alternativa para a profissão de sua preferência.
terça-feira, 16 de março de 2010
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