Matemática mais atraente
Gazeta do Povo, 13/04/2010 - Curitiba PR
Aprendizagem na disciplina ocorre a longo prazo. Levar o aluno a entender o contexto, usar jogos e tecnologia podem tornar processo mais agradável
Tatiana Duarte
A tecnologia aliada à criatividade dos professores tem ajudado a tornar a matemática mais atraente para os estudantes. Avaliações de desempenho mostram que dominar a disciplina não é o forte dos brasileiros. O Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2007, último resultado disponível, mostra que estudantes brasileiros da 8.ª série do ensino fundamental, que deveriam ser capazes, por exemplo, de calcular o valor de uma expressão algébrica, incluindo potenciação, conseguem realizar apenas operações como multiplicação e divisão com dois algarismos, conteúdo que deveriam ter dominado na 4.ª série do ensino fundamental. E a dificuldade com a disciplina se arrasta desde as séries iniciais. Na 4.ª série, de acordo com dados do Saeb, os alunos dominam habilidades que deveriam ter vencido na 2.ª série (veja tabela). O Saeb é um dos exames que integra a avaliação da educação básica no Brasil. É feito a cada dois anos e avalia uma amostra dos alunos matriculados nas 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.
O que a avaliação mostra, na opinião de especialistas, é que boa parte da relação de ódio com números e operações, muito comum em crianças e adolescentes em idade escolar, tem origem no ensino fundamental. Para o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud referência mundial em educação matemática, autor do livro A criança, a matemática e a realidade, que acaba de ganhar versão em português, uma das razões que explicam esse conflito é que o aprendizado em matemática ocorre ao longo dos anos. Vergnaud é criador da Teoria dos Campos Conceituais, que ajuda a entender como as crianças constroem os conhecimentos matemáticos. Para ele, os professores precisam usar mais desta teoria. “Os professores têm que se aliar aos pesquisadores e realizar um estudo empírico para acompanhar e dizer o que cada criança é capaz de aprender em cada idade. Os professores não têm conhecimento desta diversidade. E menos ainda os pais”, diz. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado para ministrar palestra aos docentes do Grupo Positivo.
Para Vergnaud é possível, mas difícil, tornar o ensino da matemática mais atraente, devido à seriedade que permeia a disciplina. “Ao mesmo tempo em que há situações que se aproximam das vividas pelos jovens e crianças, a matemática é uma coisa muito séria. E por isso, a maior parte das crianças se enche. O uso de atividades lúdicas com a seriedade da matemática é um equilíbrio difícil de achar”, diz.
Atratividade - Trabalhar com o lúdico e a contextualização da matemática foi a solução encontrada pela professora do Colégio Novo Ateneu Juliana de Moraes Campos, que leciona a disciplina para crianças e adolescentes há 12 anos. A professora envolveu seus alunos da 5.ª série do ensino fundamental com a história da matemática. Depois de ter pesquisado sobre o assunto, cada estudante criou seu próprio sistema de numeração. “Temos de mostrar para a criança que a matemática não surge do nada na vida dela. Dá para vincular os conteúdos com o dia a dia usando novas metodologias”, diz. Há 12 anos, os alunos do pré à 4.ª série do ensino fundamental do Centro Municipal de Educação Infantil David Carneiro, no Xaxim, usam mesas com blocos desenvolvidas exclusivamente para o ensino da matemática. As aulas com as mesas ocorrem uma vez por semana. Antes e depois os conteúdos são abordados em sala de aula. De acordo com a professora Cristiane Inês Bassa, a tecnologia permite uma melhor visualização de situações matemáticas. “Serve como um complemento da aprendizagem”, diz.
A mesa tem blocos coloridos e é integrada a um computador que permite o uso por até seis crianças simultaneamente. Contém jogos e exercícios que dão noções de lateralidade, direção, medidas e lógica. Para a estudante do 3.ª ano Bianca Ferreira Fidelis, 8 anos, dispensar a escrita dos números é um dos pontos positivos do uso da tecnologia. “Sem contar que aqui é muito mais divertido”, diz. Para uma das desenvolvedoras da tecnologia, a matemática Vanessa Moraes, as novidades tecnológicas servem para facilitar, mas sozinhas não garantem o sucesso do aprendizado. No caso das mesas, a matemática acredita que um dos principais ganhos é que o software não obriga os alunos a acertar os exercícios. “A criança se sente mais à vontade para treinar no computador. Sabe que pode retornar e tentar de novo. A observação ocorre de maneira mais lúdica. Já com a presença do professor o sentimento é de que está sendo repreendida”, diz.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
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